quarta-feira, 27 de abril de 2011

Grafitti ou não grafitti? > Se o assunto é polêmico, merece ser discutido

GRAFITTI > NÃO


São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 2011


RUY CASTRO

"Arte" compulsória

RIO DE JANEIRO - Um museu de Los Angeles inaugurou a maior exposição até hoje de "arte nas ruas", vulgo grafite. É uma retrospectiva cobrindo a história da coisa, dos anos 60 até hoje. Sou a favor dessa exposição: lugar de grafite é mesmo no museu. Ou nas galerias de arte, nas paredes internas da casa do "artista" ou dos críticos, ou em qualquer lugar. Menos nas ruas.

Não gosto de ser obrigado a consumir "arte" quando não estou a fim. Se abre uma fabulosa exposição de Miró ou Hopper no Rio ou em São Paulo, posso escolher o dia em que irei visitá-la. Ou em que não irei.Enfim, se há um Miró ou um Hopper na cidade, posso exercer meu direito de vê-lo ou não. Mas, se preciso passar todo dia por uma série de muros emporcalhados com grafite, não me dão esse direito. Tenho de vê-los, queira ou não.

Às vezes, leio que a polícia prendeu grafiteiros atuando em algum muro, viaduto ou fachada de prédio abandonado. Eles se ofendem, alegam que estão dando "um presente à cidade" e logo são soltos. A própria imprensa dá a notícia sob a rubrica "Arte incompreendida". Mas há cidadãos conservadores, que dispensam tais presentes e preferem que a prefeitura se encarregue de limpar os quarteirões depauperados -que, quanto mais grafitados, mais hostis.

Uma das "instalações" na retrospectiva de Los Angeles mostra um beco escuro e grafitado, com lixo espalhado pelo chão. Deve ser fascinante num museu. Mas, na vida real, a cena indica um território fora do controle do poder público, impróprio para habitação e sujeito a marginais. Não por acaso, os grupos de grafiteiros se definem como gangues -quadrilhas.

Nos EUA, com ou sem exposição, grafite é vandalismo e dá cadeia. No Brasil, já que a tolerância é maior, por que as prefeituras não liberam seus galpões ociosos para que os grafiteiros os rabisquem à vontade -pelo lado de dentro?
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GRAFITTI > SIM
 
Arte popular, o grafite democratizaa manifestação artística
O grafite é arte popular, não é uma manifestação artística tradicional, feita para museus ou para ornamentar paredes de casas ou de  escritórios. Sua característica principal é a feição kitsch, da arte que foge a todos os padrões reconhecidos, mas enche de cores uma cidade invadida pela pixação agressiva e sem limites, esta sim reprovável, e que deve ser combatida sem tréguas.
Guardadas as diferenças técnicas e artísticas, o grafite segue a mesma linha dos murais mexicanos, que inspiraram artistas de todo o mundo, inclusive Portinari e Di Cavalcanti aqui no Brasil.
Com exceção da arte em museus e galerias, as pinturas de nossos artistas são privatizadas por quem as compra. Um quadro vai para a parede de quem o comprou e só é visto por seus amigos e familiares, quando não, fica envelopado numa reserva técnica, como investimento, até ganhar preço para ir, outra vez, a leilão.
Já o mural (e o grafite, por consequência) fica sempre em local público, disponível a quem entende de arte e ao cidadão simples, que nunca viu nada a não ser as litografias da Santa Ceia, compradas por alguns tostões e penduradas na sala.
Os murais (grafite, entre eles) devem ser incentivados, pois são um elo importante entre o cidadão comum (a esmagadora maioria) e a arte, ainda que na sua expressão mais rude e primitiva. Grafite em museus, nem pensar, um e outro são como água e óleo, não se misturam. Quando grafite vira arte, dentro de sua concepção técnica, deixa de ser grafite.
Por fim, não sei de ninguém que, alguma vez, tenha se sentido ofendido ou incomodado por ver grafites pintados nas paredes de nosssas ruas. O grafite é como o mural, só muda a qualidade técnica, mas o princípio é o mesmo. Combatam a pichação, mas deixem os grafiteiros em paz. (Paulo Victorino)

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