Os fatos são absolutamente  
verdadeiros
verdadeiros
     O título não é enganoso e - quem me  conhece sabe -, não sou chegado a propalar mentiras. Portanto, o que vou lhes  contar é real, mas tem que passar, obrigatoriamente, por algumas  explicações.
     Não sou o que se pode chamar de um árabe,  mas já fui muitas vezes confundido em restaurantes típicos, algumas vezes sendo  abordado - em árabe - pelos donos dos restaurantes.
Minha linha de sangue 
     Meus avós maternos eram açorianos,  naturais da Ilha Terceira, e vieram para o Brasil no último quartel do Século  XIX. Meu pai, do continente português, chegou aqui em 1920. 
     Como se sabe, a Península Ibérica – onde  se localizam Portugal e Espanha – foi invadida pelos mouros que, por sete  séculos, dominaram a região. Por volta do Século VIII, começou a chamada  Reconquista, um movimento importante da História Ibérica, nome dado ao avanço  dos cristãos sobre as terras anteriormente invadidas na Península pelos  árabes.
     A Reconquista vai até o Século XV, quando  os árabes deixaram "definitivamente" a Península Ibérica. As aspas são  importantes, porque a presença deles se faz sentir até hoje nos usos e costumes,  na arquitetura e na língua e, mormente, na formação étnica dos lusitanos e  espanhóis.
     Muitos desses mouros e seus descendentes  deixaram a Península Ibérica pelo mar e se localizaram no Arquipélago dos  Açores. Foi o caso dos ancestrais dos meus avós maternos, que tinham - eles sim  - sangue puro árabe, preservado por séculos, por conta do confinamento de muitas  gerações nas ilhas açorianas. Lembro-me do meu avô João da Rocha Ferreira - de  quem herdei o prenome e as características físicas: era um mouro, um típico  tuaregue.
     Acrescentando, meu lado paterno é também  português, nomeadamente transmontano de Vila Real, ali bem próximo da Espanha, o  que não deixa de ser axiomático, já que os portugueses – lançando mão de uma  hipérbole –, se correrem uma maratona de mau jeito, têm grande chance de  adentrarem pela Espanha ou se afogarem no Atlântico... 
     Resumindo, meu pai, como todos os  portugueses e espanhóis, também tinha sangue árabe. Vocês já notaram que os  espanhóis, quando cantam, parecem ter um quibe atravessado na  garganta?
Onde entra o terrorismo internacional 
nessa história
nessa história
    Um casal de amigos, ali pelo final dos  anos 1970, nos deu dois convites para que os representassem numa festa da  comunidade judaica num clube de Copacabana. Tiveram um problema de saúde  qualquer, que impossibilitou o casal de comparecer à festa.
     Como todo bom brasileiro, não julgo  ninguém pela nacionalidade, religião, cor, idade, condição cultural ou social.  Tenho grandes amigos representantes de todos esses predicados. Não sou de fazer  julgamentos, no entanto, se for obrigado a fazê-los, só o caráter das pessoas me  interessa. 
     E lá fui eu, com minha mulher, para a tal  festa judaica, sem sequer me tocar que ainda ecoavam os tiros da Guerra do  Yom Kippur, em 1973, a quarta travada entre árabes e israelenses desde a  proclamação do Estado de Israel em 1947.
     Chegamos à festa com os convites na mão.  Na época, tinha o cabelo negro, com a pele queimada pelo sol de Nova Ipanema –  sou do tipo que, pegando sol, não descasca e vai ficando negro... 
     Três casais daquela comunidade judaica,  simpaticamente, nos recepcionaram na entrada do salão, com a pergunta: vocês são  convidados de quem? Expliquei que estávamos ali representando o tal casal amigo,  que todos identificaram de pronto. 
     Fomos, a princípio, diplomaticamente  monitorados, para depois recebermos um fraterno tratamento, mormente, depois de  dançarmos ‘Hava Naguila’, entre outras músicas judaicas. E cá entre nós,  que festa animada... 
     Obviamente, acabaram por concluir que eu  não era nenhum terrorista internacional.
A outra foi em São Paulo
     Anos depois, em setembro de 1996, fui à  São Paulo, para assistir a um leilão da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro,  realizado em um clube da comunidade judaica paulistana, no Jardim  Paulista.
     Aguardando o início do evento, lembrei-me  de telefonar para um amigo. Dirigi-me ao jardim, procurando um melhor  posicionamento para o sinal do telefone celular. Naquela época, a transmissão  através de aparelhos celulares ainda estava engatinhando... Notei que três  seguranças israelenses estavam, ostensivamente, me monitorando – dizem que são  os mais bem treinados do mundo.
     Só aí me lembrei do episódio anterior e  de que a comunidade judaica andava muito estressada, com os inúmeros atentados  terroristas perpetrados contra sinagogas, consulados, embaixadas e clubes  judaicos, mormente, na América Latina. Pouco antes, em 1994, tinha havido um  ataque à Associação Mutual Israelita Argentina, o que ocasionou a morte de 89  pessoas, além de outros incidentes de igual gravidade.
     Preferi interromper a ligação e voltar ao  salão. Daí em diante, eu fiquei debaixo dos olhares atentos dos três  israelenses, até que, por sorte, adentra ao salão um internacionalmente  conhecido técnico de futebol carioca, que, à época, treinava um clube paulista.  Ele veio em minha direção, me deu um fraternal abraço e sentou-se ao meu lado  para assistir ao leilão. Ainda pude ver os três israelenses se entreolhando,  como que dizendo: "está tudo limpo com esse cara". As aparências  enganam...
À paz absoluta e duradoura
     Esta crônica é dedicada à paz absoluta e  duradoura em todo o mundo, desejando que todos os povos se entendam. Que os  homens concluam que nacionalidade, religião, cor da pele, condição cultural ou  social não podem impedir de nos darmos as mãos. 

 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.