quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Arquitetura > Tombadas e abandonadas, as obras que constituem a memória de São Paulo, vivem sobressaltos que vem de longe, muito longe!

Fonte: Jornal "O Estado de S.Paulo" de 21/02/2002 (13 anos atrás!)

Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2002, 11:12 |

Arquitetura modernista em SP vive ameaça

Enfrentando problemas como enchentes, leis arbitrárias e até o desconhecimento dos próprios moradores, um patrimônio do modernismo corre o risco de sucumbir diante do próprio progresso da cidade

 Oitenta anos atrás, a Semana de Arte Moderna injetou os ideais do movimento modernista na capital paulista. Composta principalmente por escritores e pintores, porém, a estética só chegou mesmo à arquitetura com a chegada no País do arquiteto russo Gregori Warchavchik

Pouco conhecido da população, esse patrimônio arquitetônico não vem recebendo a atenção devida administração pública. Enchentes e leis arbitrárias são apontados pelos moradores dos locais como os grandes problemas para a conservação de prédios e casas construídos na época. 

A vila operária da Rua Barão de Jaguara ainda guarda boa parte das características projetadas pelo arquiteto Gregori Warchavchik. Mas muitos moradores andam trocando portas, janelas e azulejos. Por ali, pouca gente conhece a histórias daquelas construções. 

O ajudante Dorival de Oliveira, de 65 anos, é um dos moradores mais antigos. "Meus pais alugaram a casa há mais de 50 anos, mas não tenho idéia de quem a construiu." Ele diz que gosta do imóvel e lamenta o descaso do poder público. "Volta e meia isso enche de água." 

"Ou o governo ajuda ou a casa cai" 

As casas da Rua Berta foram tombadas total ou parcialmente. A tradutora Sonia Horta Mangeon George mora há sete anos numa delas e luta para preservá-la. Ela sabe detalhes sobre a vila porque conhece um dos filhos do arquiteto. Sonia tem orgulho de mostrar o porta-chapéus, os closets, as luminárias. "Amo essa casa, embora ela esteja caindo aos pedaços", admite Sonia. 

A tradutora reclama do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat) do Estado. Segundo ela, a impossibilidade de fazer alterações está acabando com a construção. "Ou o governo me ajuda ou a casa cai." Um dos netos de Warchavchik, o arquiteto Carlos Eduardo Warchavchik, defende certa "flexibilização". "Casas têm vida útil. Ninguém quer morar num lugar com encanamento de 80 anos." 

Uma casa da Rua Bahia, no Pacaembu, tem a situação diferente. Tombada, está ocupada há nove anos por um escritório de arquitetura. Segundo o gerente administrativo, Alceu Terra, eles acharam a casa "detonada", porque conservava suas características originais. 

O secretário municipal da Cultura, Marco Aurélio Garcia, está disposto a discutir as restrições do tombamento. O presidente do Condephaat, José Roberto Melhem, afirmou que, se o morador provar que não tem recursos, poderá receber ajuda do Estado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.