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Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca
Cerâmicas recentes
Centro Cultural Correios
[2º andar]
Abertura: 04 de dezembro de 2013, às 19h
Visitação: 05 de dezembro de 2013 a 19 de janeiro de 2014
Produção: a+a design e produção
Design: Gloria Afflalo
Entrada franca
O Centro Cultural Correios apresenta a
exposição “Gilberto
Paim e Elizabeth Fonseca – Cerâmicas
recentes”, com cerca de 70 peças inéditas, que ocuparão duas salas
do segundo andar do espaço, com peças desses dois prestigiosos artistas, que já mostraram suas criações na Beaux Arts Gallery, na
Inglaterra, e na Galeria Marianne Heller, na Alemanha, uma das mais
conceituadas galerias especializadas em cerâmica contemporânea da Europa.
É importante ressaltar que a técnica milenar
da cerâmica tem sido frequentemente
utilizada por importantes artistas contemporâneos, elevando-a ao status de
obras de arte. “Gilberto e Elizabeth dialogam com os modernos, os
construtivos e suas preferências. A frugalidade e honestidade dos objetos
japoneses, muitos da tradição mingei; os desenhos geométricos dos índios
brasileiros; a essencialidade de muitos dos projetos do design moderno. Há
também o diálogo com alguns artistas, seguramente Josef Albers e Mark Rothko em
suas buscas de vibração das cores, sempre em relação. Há ainda a
procura do preto luminoso, como em Soulages”, ressalta Ethel
Leon.
“Nessa produção há forte trabalho inventivo. As perguntas que se
endereçam às obras de arte geralmente começam por Como. Aqui também. Como obtiveram esse vermelho tão intenso? Como
desenharam essas linhas que percorrem com ‘regularidade irregular’ o vaso de
porcelana? Como arranharam com o sgrafito,
essa superfície e com quem conversa esta peça?”, afirma Ethel Leon.
A mostra será acompanhada de um catálogo, com cerca de
80 páginas, textos do crítico alemão especializado em cerâmica contemporânea
Walter Lokau e da historiadora, professora e crítica de design Ethel Leon e 50 fotos de Eduardo Câmara. O design é de Gloria
Afflalo, que também assina o projeto expositivo.
SOBRE OS ARTISTAS
As cerâmicas de Gilberto Paim e
Elizabeth Fonseca já foram expostas em espaços culturais de
prestígio como o Museu de Arte da Fundação Armando Álvares Penteado, o Paço das
Artes e o Centro Brasileiro-Britânico, em São Paulo ; o Museu de Arte Moderna, o Paço
Imperial, Galerias Cândido Mendes e o Centro Cultural dos Correios, no Rio de
Janeiro. Constam do acervo das galerias Espasso, de design e arte aplica-da
brasileiros, em Nova York
e em Los Angeles.
Em 2008, os
artistas realizaram com sucesso a exposição “New Ceramics” na sólida galeria
inglesa Beaux Arts Bath, atraindo o interesse de vários colecionadores
europeus. Entre 23 de outubro e 27 de novembro de 2011 realizaram a exposição
“Crossing Li-nes” na Galeria Marianne Heller, de Heidelberg, Alemanha, onde foi
muito bem recebida tanto pela imprensa quanto pelo público. A galeria é um dos
mais conceituados espaços dedicados à arte da cerâmica em toda a Europa. Desde
1976, Marianne Heller expõe os mais importantes artistas-ceramistas de países
como Inglaterra, Japão, Finlândia e Austrália, cuja contribuição para a
cerâmica contemporânea é notória. A programação da galeria é acompanhada
internacionalmente por artistas, apreciadores e colecionadores, além de museus
de arte, design e arte aplicada. Graças à sua contribuição duradoura à promoção
da arte da cerâmica, Marianne Heller tornou-se membro do Conselho da Academia
Internacional de Cerâmica, de Genebra.
Em
dezembro de 2006, foi lançado o livro Elizabeth Fonseca & Gilberto Paim
(Editora Viana & Mosley), com setenta imagens de Rômulo Fialdini e texto
bilíngüe, em português e inglês. Desde 1997 estão
presentes de modo constante nas conceituadas lojas Interni, no Rio de Janeiro e
em São Paulo.
Serviço: Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca – Cerâmicas
recentes
Abertura:
04 de dezembro de 2013, às 19h
Visitação:
05 de dezembro de 2013 a
19 de janeiro de 2014
Centro Cultural Correios
Rua Visconde de Itaboraí, 20 - Centro
Rio de Janeiro - RJ
Telefone: (21) 2253.1580
De terça-feira a domingo, das 12h às 19h
Entrada franca
Assessoria Centro
Cultural Correios: Maria José Cardoso mariajosec@correios.com.br
(21) 2219.5323
Mais informações:
CW&A Comunicação
Claudia Noronha / Beatriz Caillaux / Marcos
Noronha
21
2286.7926 e 3285.8687
___________________________________
Aquecendo a frieza moderna...
Os ceramistas brasileiros
Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca
Sem sombra de dúvida
Gilberto Paim (nascido em 1957) e Elizabeth Fonseca (nascida em 1957) se
encontram na vanguarda da cerâmica como arte no Brasil. De início não tinham
planos de dedicar sua vida profissional à cerâmica – entraram no mundo da
argila e da porcelana por acaso, para sorte deles. Ambos são formados em
Comunicação pela PUC do Rio de Janeiro e Gilberto Paim obteve um doutorado por
sua tese sobre as teorias modernas do ornamento. No entanto nenhum deles jamais
trabalhou nas áreas específicas de sua formação. Ainda na universidade, e já
entusiastas da arte e design modernos e contemporâneos, entraram para o curso
da ceramista Alice Felzenszwalb. Foi uma virada em suas vidas: Gilberto e
Elizabeth ficaram encantados pela cerâmica, cujo fascínio os domina desde
então.
Embora totalmente
comprometidos com o desejo de se tornarem ceramistas, logo perceberam que um
único curso de cerâmica não bastaria. Os padrões de domínio artesanal neste
gênero contido e despretensioso são muito elevados e levam tempo para serem
alcançados ─ especialmente devido às exigências sempre crescentes que ambos se
impuseram. Embora não deixassem de respeitar a tradição histórica, esses dois
ceramistas de grandes aspirações jamais mostraram interesse pelos vários tipos
de releitura moderna da cerâmica indígena latino-americana tradicional. Seu
trabalho visava o idioma internacional
contemporâneo. Trabalho aferrado à cerâmica de alta temperatura, nos vasos de
grès ou porcelana ─ de um lado, um gênero historicamente rico; de outro, um
meio moderno, aberto e indeterminado, oferecendo possibilidades ilimitadas de
variações sobre um tema clássico, campo ilimitado de aperfeiçoamento, ao modo
de novos espaços interpostos, ampliados e completados por meio da expressão
individual e ornamentação diferenciada.
Então vieram anos de
intensa conquista, obstinada e até mesmo obsessiva, de aspectos práticos,
teóricos e históricos ─ enorme desafio pessoal para Gilberto e Elizabeth, que
os deixava completamente absortos, e ao mesmo tempo incertos quanto ao
resultado de seus esforços. A primeira inspiração que tiveram veio de Mieko
Ukeseki, ceramista japonesa que havia imigrado para o Brasil; assim voltaram-se
para a cerâmica do extremo oriente, com sua estética altamente característica.
Mas os dois discípulos aplicados logo começaram a perder interesse pelas
experiências de queima de Ukeseki, que usava um forno a lenha noborigama com seus efeitos de fogo de
difícil controle, de cinza em suspensão e marcas fulgurantes na superfície dos
recipientes. O ethos da sua cerâmica era cada vez mais definido por linhas
claras, funcionalidade e ornamentação franca, claramente definida. Seu objetivo
era produzir vasos de porcelana rigorosamente torneados, esmaltados com
perfeição ou parcialmente realçados por engobes coloridos, queimados em forno
elétrico. Em 1980 tornaram-se ceramistas autônomos, participando por pouco tempo de um atelier coletivo no
Rio; mas em 1981 surgiu a oportunidade de fugir das limitações que esta
situação impunha, quando se mudaram para uma casa em Nova Friburgo –
cidade fundada por imigrantes suíços no início do século dezenove, nas serras a
noroeste da cidade do Rio de Janeiro, onde moram e trabalham até hoje.
Nesse mesmo ano Gilberto
Paim e Elizabeth Fonseca tiveram um encontro inesquecível com grandes obras da
cerâmica moderna, que lhes deixaram uma profunda impressão ─ a retrospectiva no
Victoria and Albert Museum, de Londres, da ceramista britânica Lucie Rie,
austríaca de origem judia que imigrou para a Inglaterra. Foi para eles uma
experiência visual mentalmente impactante. A precisão contida e sutil, e a
ornamentação linear das tigelas e vasos da grande dama da cerâmica britânica –
cuja obra já era considerada clássica na cerâmica de arte europeia ─ foi uma
experiência inovadora e seminal para os dois jovens artistas brasileiros. A
modernidade de Rie, que se distanciava da escola consagrada e altamente
influente de Bernard Leach, inspirada na cerâmica do Japão, sua linguagem
coerente e original, liberta de qualquer tradição, encorajou os dois viajantes
e admiradores vindos de longe a criar seu próprio idioma contemporâneo.
Existe outra influência
estilística que acabou sendo absorvida pelos dois artistas: sua afinidade pelo
rigor clássico, combinada à modernidade, prática, doméstica e cotidiana, os pôs
em contato com os conceitos do design escandinavo e a cerâmica do norte da
Europa. Esta proximidade estilística pode ser percebida em outras modalidades
da arte brasileira do século vinte, na pintura, design de mobiliário e
especialmente na arquitetura, que adapta a elegância discreta e a simplicidade
estética da vanguarda do velho mundo, como elemento de um modernismo renovado.
Não é de espantar que Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca estejam ligados de modo
tão íntimo e profundo a esta versão especificamente sul americana do
modernismo, conectada aos estilos internacionais.
Assim eles assimilaram suas
preferências, combinando-as em seus recipientes elegantes, projetados com
precisão e feitos com impressionante qualidade, em marcante contraste com a
indiferença estética dos objetos atuais, quanto à forma, cor e ornamentação. As
formas puras e quase universais recebem um toque vibrante e pessoal pelas cores
claras parcialmente aplicadas e o nítido contraste do trabalho da ornamentação
delicadamente incisa, que jamais denota qualquer aparência mecânica. Apesar de
tudo que possuem em comum, o trabalho dos dois artistas é claramente distinto:
os vasos de Gilberto Paim, na maior parte em porcelana, buscam a vertical, e
mesmo suas tigelas possuem lados mais abruptos que as de sua parceira. Sua
forma predileta é um cilindro de paredes finas, torneado com rigor, muitas
vezes estreito e tubular, com ligeiras marcas dos sulcos deixados pela rotação
do torno. Ele varia e modula incessantemente essa forma básica, de modo côncavo
ou convexo, indo da cuia fina ao formato da garrafa, às vezes cônica, estreita
ou se verticalizando como uma chaminé; as peças às vezes são montadas a partir
de duas partes torneadas até formar um grande recipiente semelhante a uma taça.
Esta verticalidade típica é contrabalançada e drasticamente interrompida por
áreas horizontais coloridas e camadas de engobe mate. Estreitas faixas monocromáticas,
intensas, quase berrantes, contrastam agudamente com áreas enegrecidas que
acentuam a base ou a borda, refletindo o interior, intensificando e agrupando
as tonalidades cromáticas, transformando o recipiente num som visual, como um
belo e afinado acorde colorido. Mesmo a ornamentação compactamente incisa da
circunferência mais parece uma camada fina, campo contrastante delicadamente
traçado na superfície, que uma nítida composição linear. Nos últimos trabalhos
de Gilberto Paim vemos definido com maior precisão este conceito estético de
formas básicas e composição cromática: um grupo de vasos cilíndricos de paredes
finas, com esmalte brilhante no interior, divididos externamente em quatro
faixas de cores foscas de igual tamanho, em tons ligeiramente variados de laranja-salmão,
delineados de branco, cinza ou preto, que se misturam nas bordas ─ variações
sobre um tema básico ─ minimalismo em forma de vaso.
Poder-se-ia dizer que os
recipientes de Elizabeth Fonseca são mais femininos, talvez um pouco mais
lúdicos, já que ela prefere formas mais corpulentas e redondas, formatos
esféricos com bordas perfiladas, vasos bojudos com tampa, largas tigelas
torneadas em porcelana ou grès. Ela também produz vasos cilíndricos, e outros
em forma de garrafa. Exceto em suas tigelas largas, rasas e abertas, ela ignora
as cores vivas dos vasos de Gilberto Paim.
Quanto mais extensa e explícita é sua ornamentação incisa ─ se comparada
à do marido, que é mais aberta, abrangente e menos linear, cobrindo muitas
vezes toda a peça – mais intrigante é seguir sua irregularidade intuitiva, à
mão livre, que pode ser encontrada nos motivos têxteis indígenas, e rastrear as
fascinantes e também ásperas harmonias e desarmonias da geometria composta e
decomposta. Elizabeth Fonseca muitas vezes incrusta seus motivos nos
recipientes de porcelana usando engobe
cinza ou marrom para acentuar as linhas incisas que contrastam com a superfície
branca, frisando o antagonismo entre liberdade gráfica e rigor formal. Pode
parecer paradoxal, mas em suas peças Elizabeth Fonseca consegue criar uma bela
combinação entre o ornamento arcaico e o design contemporâneo.
Por último, mas nem por
isso menos importante, há as chamadas obras a quatro mãos, feitas em conjunto, torneadas por ele e pintadas e
incisas por ela, combinando características dos dois, verticalidade extrema e
ornamentação mais livre. Não são obras híbridas, e sim novos objetos nascidos
de valores compartilhados e visão comum.
A receptividade internacional a esse conceito original, e ao mesmo tempo
conjunto, em constante evolução, proposto pelos dois em relação ao recipiente
de cerâmica, era inevitável. Depois de mostrar seu trabalho em Nova York e Los Angeles,
eles expuseram na Beaux Arts Gallery, em Bath (Grã Bretanha), e na mais
destacada galeria de arte cerâmica contemporânea da Alemanha, a Galerie
Marianne Heller, em Heidelberg. É possível prever inequivocamente que a
“calorosa modernidade” (Gilberto Paim) de suas peças certamente conquistará
outras galerias internacionais e colecionadores, e também seu lugar de direito
na cerâmica moderna. A chegada imprevista de um novo classicismo vindo da
América Latina beneficiará a cena internacional da cerâmica de autor ─ sem
dúvida alguma.
Dr. Walter H. Lokau, Bremen/Alemanha
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