segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Rio de Janeiro > Centro Cultural Correios apresenta a exposição “Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca – Cerâmicas recentes”, com cerca de 70 peças inéditas

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Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca
Cerâmicas recentes


Centro Cultural Correios
[2º andar]
Abertura: 04 de dezembro de 2013, às 19h
Visitação: 05 de dezembro de 2013 a 19 de janeiro de 2014
Produção: a+a design e produção
Design: Gloria Afflalo 
Entrada franca


O Centro Cultural Correios apresenta a exposição “Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca – Cerâmicas recentes”, com cerca de 70 peças inéditas, que ocuparão duas salas do segundo andar do espaço, com peças desses dois prestigiosos artistas, que já mostraram suas criações na Beaux Arts Gallery, na Inglaterra, e na Galeria Marianne Heller, na Alemanha, uma das mais conceituadas galerias especializadas em cerâmica contemporânea da Europa.

As peças de Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca são objetos de arte, feitas uma a uma, manualmente. “Em vez de abdicarem da especificidade artesanal, Gilberto e Elizabeth se opõem com tenacidade à lógica mecânica da seriação indiferente. Mesmo as peças que se assemelham trazem rasgos firmes de personalidade e só são verdadeiramente apreciadas por quem as toca, manuseia, vira de cabeça para baixo e para os lados”, afirma a historiadora, professora e crítica de design brasileira Ethel Leon, no texto do catálogo que acompanha a mostra.

É importante ressaltar que a técnica milenar da cerâmica tem sido frequentemente utilizada por importantes artistas contemporâneos, elevando-a ao status de obras de arte. “Gilberto e Elizabeth dialogam com os modernos, os construtivos e suas preferências. A frugalidade e honestidade dos objetos japoneses, muitos da tradição mingei; os desenhos geométricos dos índios brasileiros; a essencialidade de muitos dos projetos do design moderno. Há também o diálogo com alguns artistas, seguramente Josef Albers e Mark Rothko em suas buscas de vibração das cores, sempre em relação. Há ainda a procura do preto luminoso, como em Soulages”, ressalta Ethel Leon.  
Nessa produção há forte trabalho inventivo. As perguntas que se endereçam às obras de arte geralmente começam por Como. Aqui também. Como obtiveram esse vermelho tão intenso? Como desenharam essas linhas que percorrem com ‘regularidade irregular’ o vaso de porcelana? Como arranharam com o sgrafito, essa superfície e com quem conversa esta peça?”, afirma Ethel Leon.

A mostra será acompanhada de um catálogo, com cerca de 80 páginas, textos do crítico alemão especializado em cerâmica contemporânea Walter Lokau e da historiadora, professora e crítica de design Ethel Leon e 50 fotos de Eduardo Câmara. O design é de Gloria Afflalo, que também assina o projeto expositivo.







SOBRE OS ARTISTAS

As cerâmicas de Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca já foram expostas em espaços culturais de prestígio como o Museu de Arte da Fundação Armando Álvares Penteado, o Paço das Artes e o Centro Brasileiro-Britânico, em São Paulo; o Museu de Arte Moderna, o Paço Imperial, Galerias Cândido Mendes e o Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro. Constam do acervo das galerias Espasso, de design e arte aplica-da brasileiros, em Nova York e em Los Angeles.

Em 2008, os artistas realizaram com sucesso a exposição “New Ceramics” na sólida galeria inglesa Beaux Arts Bath, atraindo o interesse de vários colecionadores europeus. Entre 23 de outubro e 27 de novembro de 2011 realizaram a exposição “Crossing Li-nes” na Galeria Marianne Heller, de Heidelberg, Alemanha, onde foi muito bem recebida tanto pela imprensa quanto pelo público. A galeria é um dos mais conceituados espaços dedicados à arte da cerâmica em toda a Europa. Desde 1976, Marianne Heller expõe os mais importantes artistas-ceramistas de países como Inglaterra, Japão, Finlândia e Austrália, cuja contribuição para a cerâmica contemporânea é notória. A programação da galeria é acompanhada internacionalmente por artistas, apreciadores e colecionadores, além de museus de arte, design e arte aplicada. Graças à sua contribuição duradoura à promoção da arte da cerâmica, Marianne Heller tornou-se membro do Conselho da Academia Internacional de Cerâmica, de Genebra.

Em dezembro de 2006, foi lançado o livro Elizabeth Fonseca & Gilberto Paim (Editora Viana & Mosley), com setenta imagens de Rômulo Fialdini e texto bilíngüe, em português e inglês. Desde 1997 estão presentes de modo constante nas conceituadas lojas Interni, no Rio de Janeiro e em São Paulo.


Serviço: Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca – Cerâmicas recentes
Abertura: 04 de dezembro de 2013, às 19h
Visitação: 05 de dezembro de 2013 a 19 de janeiro de 2014

Centro Cultural Correios
Rua Visconde de Itaboraí, 20 - Centro
Rio de Janeiro - RJ
Telefone: (21) 2253.1580
De terça-feira a domingo, das 12h às 19h
Entrada franca

Assessoria Centro Cultural Correios: Maria José Cardoso mariajosec@correios.com.br (21) 2219.5323

Mais informações: CW&A Comunicação
                               Claudia Noronha / Beatriz Caillaux / Marcos Noronha
                               21 2286.7926 e 3285.8687

                               claudia@cwea.com.br / beatriz@cwea.com.br / marcos@cwea.com.br

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Aquecendo a frieza moderna...
Os ceramistas brasileiros Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca
Sem sombra de dúvida Gilberto Paim (nascido em 1957) e Elizabeth Fonseca (nascida em 1957) se encontram na vanguarda da cerâmica como arte no Brasil. De início não tinham planos de dedicar sua vida profissional à cerâmica – entraram no mundo da argila e da porcelana por acaso, para sorte deles. Ambos são formados em Comunicação pela PUC do Rio de Janeiro e Gilberto Paim obteve um doutorado por sua tese sobre as teorias modernas do ornamento. No entanto nenhum deles jamais trabalhou nas áreas específicas de sua formação. Ainda na universidade, e já entusiastas da arte e design modernos e contemporâneos, entraram para o curso da ceramista Alice Felzenszwalb. Foi uma virada em suas vidas: Gilberto e Elizabeth ficaram encantados pela cerâmica, cujo fascínio os domina desde então.
Embora totalmente comprometidos com o desejo de se tornarem ceramistas, logo perceberam que um único curso de cerâmica não bastaria. Os padrões de domínio artesanal neste gênero contido e despretensioso são muito elevados e levam tempo para serem alcançados ─ especialmente devido às exigências sempre crescentes que ambos se impuseram. Embora não deixassem de respeitar a tradição histórica, esses dois ceramistas de grandes aspirações jamais mostraram interesse pelos vários tipos de releitura moderna da cerâmica indígena latino-americana tradicional. Seu trabalho  visava o idioma internacional contemporâneo. Trabalho aferrado à cerâmica de alta temperatura, nos vasos de grès ou porcelana ─ de um lado, um gênero historicamente rico; de outro, um meio moderno, aberto e indeterminado, oferecendo possibilidades ilimitadas de variações sobre um tema clássico, campo ilimitado de aperfeiçoamento, ao modo de novos espaços interpostos, ampliados e completados por meio da expressão individual e ornamentação diferenciada.
Então vieram anos de intensa conquista, obstinada e até mesmo obsessiva, de aspectos práticos, teóricos e históricos ─ enorme desafio pessoal para Gilberto e Elizabeth, que os deixava completamente absortos, e ao mesmo tempo incertos quanto ao resultado de seus esforços. A primeira inspiração que tiveram veio de Mieko Ukeseki, ceramista japonesa que havia imigrado para o Brasil; assim voltaram-se para a cerâmica do extremo oriente, com sua estética altamente característica. Mas os dois discípulos aplicados logo começaram a perder interesse pelas experiências de queima de Ukeseki, que usava um forno a lenha noborigama com seus efeitos de fogo de difícil controle, de cinza em suspensão e marcas fulgurantes na superfície dos recipientes. O ethos da sua cerâmica era cada vez mais definido por linhas claras, funcionalidade e ornamentação franca, claramente definida. Seu objetivo era produzir vasos de porcelana rigorosamente torneados, esmaltados com perfeição ou parcialmente realçados por engobes coloridos, queimados em forno elétrico. Em 1980 tornaram-se ceramistas autônomos, participando  por pouco tempo de um atelier coletivo no Rio; mas em 1981 surgiu a oportunidade de fugir das limitações que esta situação impunha, quando se mudaram para uma casa em Nova Friburgo – cidade fundada por imigrantes suíços no início do século dezenove, nas serras a noroeste da cidade do Rio de Janeiro, onde moram e trabalham até hoje.
Nesse mesmo ano Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca tiveram um encontro inesquecível com grandes obras da cerâmica moderna, que lhes deixaram uma profunda impressão ─ a retrospectiva no Victoria and Albert Museum, de Londres, da ceramista britânica Lucie Rie, austríaca de origem judia que imigrou para a Inglaterra. Foi para eles uma experiência visual mentalmente impactante. A precisão contida e sutil, e a ornamentação linear das tigelas e vasos da grande dama da cerâmica britânica – cuja obra já era considerada clássica na cerâmica de arte europeia ─ foi uma experiência inovadora e seminal para os dois jovens artistas brasileiros. A modernidade de Rie, que se distanciava da escola consagrada e altamente influente de Bernard Leach, inspirada na cerâmica do Japão, sua linguagem coerente e original, liberta de qualquer tradição, encorajou os dois viajantes e admiradores vindos de longe a criar seu próprio idioma contemporâneo.
Existe outra influência estilística que acabou sendo absorvida pelos dois artistas: sua afinidade pelo rigor clássico, combinada à modernidade, prática, doméstica e cotidiana, os pôs em contato com os conceitos do design escandinavo e a cerâmica do norte da Europa. Esta proximidade estilística pode ser percebida em outras modalidades da arte brasileira do século vinte, na pintura, design de mobiliário e especialmente na arquitetura, que adapta a elegância discreta e a simplicidade estética da vanguarda do velho mundo, como elemento de um modernismo renovado. Não é de espantar que Gilberto Paim e Elizabeth Fonseca estejam ligados de modo tão íntimo e profundo a esta versão especificamente sul americana do modernismo, conectada aos estilos internacionais.
Assim eles assimilaram suas preferências, combinando-as em seus recipientes elegantes, projetados com precisão e feitos com impressionante qualidade, em marcante contraste com a indiferença estética dos objetos atuais, quanto à forma, cor e ornamentação. As formas puras e quase universais recebem um toque vibrante e pessoal pelas cores claras parcialmente aplicadas e o nítido contraste do trabalho da ornamentação delicadamente incisa, que jamais denota qualquer aparência mecânica. Apesar de tudo que possuem em comum, o trabalho dos dois artistas é claramente distinto: os vasos de Gilberto Paim, na maior parte em porcelana, buscam a vertical, e mesmo suas tigelas possuem lados mais abruptos que as de sua parceira. Sua forma predileta é um cilindro de paredes finas, torneado com rigor, muitas vezes estreito e tubular, com ligeiras marcas dos sulcos deixados pela rotação do torno. Ele varia e modula incessantemente essa forma básica, de modo côncavo ou convexo, indo da cuia fina ao formato da garrafa, às vezes cônica, estreita ou se verticalizando como uma chaminé; as peças às vezes são montadas a partir de duas partes torneadas até formar um grande recipiente semelhante a uma taça. Esta verticalidade típica é contrabalançada e drasticamente interrompida por áreas horizontais coloridas e camadas de engobe mate. Estreitas faixas monocromáticas, intensas, quase berrantes, contrastam agudamente com áreas enegrecidas que acentuam a base ou a borda, refletindo o interior, intensificando e agrupando as tonalidades cromáticas, transformando o recipiente num som visual, como um belo e afinado acorde colorido. Mesmo a ornamentação compactamente incisa da circunferência mais parece uma camada fina, campo contrastante delicadamente traçado na superfície, que uma nítida composição linear. Nos últimos trabalhos de Gilberto Paim vemos definido com maior precisão este conceito estético de formas básicas e composição cromática: um grupo de vasos cilíndricos de paredes finas, com esmalte brilhante no interior, divididos externamente em quatro faixas de cores foscas de igual tamanho, em tons ligeiramente variados de laranja-salmão, delineados de branco, cinza ou preto, que se misturam nas bordas ─ variações sobre um tema básico ─ minimalismo em forma de vaso.
Poder-se-ia dizer que os recipientes de Elizabeth Fonseca são mais femininos, talvez um pouco mais lúdicos, já que ela prefere formas mais corpulentas e redondas, formatos esféricos com bordas perfiladas, vasos bojudos com tampa, largas tigelas torneadas em porcelana ou grès. Ela também produz vasos cilíndricos, e outros em forma de garrafa. Exceto em suas tigelas largas, rasas e abertas, ela ignora as cores vivas dos vasos de Gilberto Paim.  Quanto mais extensa e explícita é sua ornamentação incisa ─ se comparada à do marido, que é mais aberta, abrangente e menos linear, cobrindo muitas vezes toda a peça – mais intrigante é seguir sua irregularidade intuitiva, à mão livre, que pode ser encontrada nos motivos têxteis indígenas, e rastrear as fascinantes e também ásperas harmonias e desarmonias da geometria composta e decomposta. Elizabeth Fonseca muitas vezes incrusta seus motivos nos recipientes  de porcelana usando engobe cinza ou marrom para acentuar as linhas incisas que contrastam com a superfície branca, frisando o antagonismo entre liberdade gráfica e rigor formal. Pode parecer paradoxal, mas em suas peças Elizabeth Fonseca consegue criar uma bela combinação entre o ornamento arcaico e o design contemporâneo.
Por último, mas nem por isso menos importante, há as chamadas obras a quatro mãos, feitas em conjunto, torneadas por ele e pintadas e incisas por ela, combinando características dos dois, verticalidade extrema e ornamentação mais livre. Não são obras híbridas, e sim novos objetos nascidos de valores compartilhados e visão comum.
A receptividade internacional a esse conceito original, e ao mesmo tempo conjunto, em constante evolução, proposto pelos dois em relação ao recipiente de cerâmica, era inevitável. Depois de mostrar seu trabalho em Nova York e Los Angeles, eles expuseram na Beaux Arts Gallery, em Bath (Grã Bretanha), e na mais destacada galeria de arte cerâmica contemporânea da Alemanha, a Galerie Marianne Heller, em Heidelberg. É possível prever inequivocamente que a “calorosa modernidade” (Gilberto Paim) de suas peças certamente conquistará outras galerias internacionais e colecionadores, e também seu lugar de direito na cerâmica moderna. A chegada imprevista de um novo classicismo vindo da América Latina beneficiará a cena internacional da cerâmica de autor ─ sem dúvida alguma.


Dr. Walter H. Lokau, Bremen/Alemanha

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