terça-feira, 19 de abril de 2011

Educação > Em Portugal a escola não é risonha e franca > Regras de comportamento nas escolas portuguesas

     Embora Portugal seja um país relativamente pequeno em território e população, se comparado ao Brasil, há regras diferentes de comportamento nas salas de aula, conforme a região do país. É interessante conhecê-las, para comparar com as normas vigentes no ensino aqui no Brasil.

*   *   *

A origem da expressão “Escola risonha e franca”

     Era comum, nos anos 40 e 50 o uso da expressão “escola risonha e franca” para discriminar o ensino feito com certa liberalidade e menos sujeita às regras disciplinares da época, como a formação militar no páteo, antes de entrar na sala de aula, a obrigação de levantar-se da carteira à entrada de um professor e não sentar-se antes de receber autorização, etc.

     A expressão "escola risonha e franca" foi cunhada pelo poeta Acácio Antunes, fazendo referência à região fronteiriça de Alsácia e Lorena, que pertencia à França, mas que foi anexada à Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, gerando confronto e revolta entre a população, predominantemente francesa. Eis o poema:

Alsácia (clique na foto para ampliar)
O ESTUDANTE ALSACIANO
Acácio Antunes


Antigamente, a escola era risonha e franca. 


Do velho professor, as cãs e a barba branca
infundiam respeito e impunham simpatia,
modelando as feições do velho que sorria.
era como criança em meio às crianças,
como ao pombal voando,
em bando, as pombas mansas
corriam todos
para a escola e nem sequer assomo
de aversão ou desgosto
sentiam ao ir para ali
como quem vai a uma festa
ao começo, ao estudo,
sem pezar abandonavam tudo
de bancos em fileiras
iam sentar-se em frente às carteiras
gravemente atentos, uns pequeninos sábios.

E o velho professor, tendo sempre nos lábios
ia ensinando a este, emendando àquele,
de manso, com carinho e paternal amor. 



                    *   *   *
Por fim, tudo mudou: agora o professor
é um velho austero e conciso
nunca os lábios se lhe abriam
à sombra de um sorriso. 


E aos pequenos transformou
num calabouço a escola:
pobres asas sem dó
metidas na gaiola.

Lá dentro o francês é língua morta e muda
unicamente o alemão se fala e estuda.;
são alemães os livros, o mestre, a lição.
A Alsácia é alemã, o povo é alemão.
Como na própria Pátria, é triste ser proscrito!

Freqüentava também a escola, um rapazito
de severo perfil, enérgico e expressivo,
de olhar inteligente e vivo
mas na íntima tristeza daquele olhar velado,
no modesto trajar, de luto carregado,
doze anos só teria. E o mestre uma vez
chamou-o à Geografia.

-– Diz-me aí, rapaz, que é isto,
estás de luto, quem te morreu?

– Meu pai, no último reduto em defesa da Pátria.

– Ah, sim... bem. Adiante,
tu tens um ar de ser bom estudante.

– Quais são as principais nações da Europa? Vá.

– As principais são.. a França...

– Hei, que é lá, com que então a França é a
primeira? Bom começo...

– De todas as nações, pateta, que conheço
aquela que mais vale e que domina o mundo
em esplendor nas letras e nas artes,
que irradia ciência a iluminar a terra,
a mais nobre na paz, a mais forte na guerra,
a mais, que das demais desdenha,
fica-o tu sabendo, rapaz, é a Alemanha.

Com ar desprezador e altivo
a cabeça agitando num gesto negativo
com voz firme tornou: – A França é a primeira!

O mestre, furioso, ergue-se da cadeira, bate o pé
e uma praga enérgica se lhe escapa. 


– Tu sabes onde está a França? Aponta-ma no
mapa.

Com o rosto afogueado, os olhos fulgurantes, enquanto os demais estudantes
olham cheios de assombro
aquele destemido rapaz,
nervos, tímido, comovido,
o cobarde feito herói, pigmeu tornado atleta,
desabotoando febril a blusa preta
batendo no peito, impávida criança exclama: 


– É aqui, é aqui dentro que está a França.


 Alsácia (clique na foto para ampliar)


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