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O Museu de Arte
Contemporânea de Niterói – MAC de Niterói – inaugura dia 5 de outubro, às 17h,
a exposição Olhos d'Água, de Suzana Queiroga, contemplada com o 5º Prêmio de
Artes Marcantonio Vilaça – MINC - Funarte. A mostra apresenta uma grande
escultura de ar (inflável): Olhos d'Água, que será doada ao
acervo do MAC como contrapartida do prêmio.
Sob a curadoria de
Guilherme Vergara, também serão expostas três séries de sete desenhos, três
vídeos e uma pintura, todos inéditos.
Olhos
D’água se relaciona com a questão da morte do pai de Suzana, na década
de 60, em um acidente aéreo, na Baía de Guanabara, próximo ao aeroporto Santos
Dummont, época em que a mãe ainda estava grávida da artista. “O MAC fica exatamente em frente ao aeroporto,
que seria o destino de um pouso que não aconteceu”, conta Suzana.
“A localização do
museu foi essencial para esse projeto. Lido com essas memórias simbolicamente,
o despedaçamento e dissolução do corpo no mar, o fado, a espera de quem jamais
virá. É um contato cada vez maior que faço com minha origem portuguesa. Para
mergulhar nessa proposta, precisei pesquisar e abrir recentemente, junto com
minha mãe, os arquivos que ela não via desde a época do acidente, as matérias
do jornal, as cartas de amor de um para o outro, os diários do meu pai,
telegramas, enfim, toda uma sorte de coisas que fizeram com que eu pudesse
passar a conhecê-lo, e houve sintonias incríveis, os desenhos dele em azul,
diários dele com as capas no mesmo azul que eu uso, telegramas de minha mãe
falando de azul. Aos poucos, conheço esse homem com uma memória construída no
hoje, o que talvez revestirá, com algum tipo de membrana esse buraco enorme que
sempre senti dentro do peito”, declara a artista.
Na exposição,
Suzana também revela que começou a pintar influenciada por um quadro feito por
seu pai, que descobriu aos quatro anos. E fala ainda sobre sua relação com as
cores, em especial com o azul.
“Neste momento
estou profundamente ligada a uma paleta de azuis profundos, azuis violetados,
cinzas azulados e oceanicamente esverdeados. Minha relação com as cores agora
só passa pelo que é céu, densidade atmosférica, ar, nuvem, e também mar, oceano
e profundidade. Tenho um respeito tão grande pela cor, que é como se essa fosse
algo que pairasse acima de tudo, pois a cor é a própria luz, e o seu
comportamento mutante, desviante, relativo e infinitamente plural é de uma
poesia imensa a qual penso que poucos artistas conseguem tocar. Sinto que não é
uma operação meramente técnica ou objetiva, não basta saber as misturas e
conhecer os pigmentos. Existe uma resposta maior que a cor me dá e que é
proporcional ao quanto eu consigo me aproximar mais e mais delicadamente de
seus sutis momentos de transformação vibracional. A cor “ideia” logo me vem
como algo pronto, idealizado, e plenamente dominado, porém, a cor que
“realmente” torna potente as minhas intenções diante de um trabalho somente
será obtida a partir de uma busca, revalidada a cada instante, num percurso no
qual é exigida a totalidade de minha atenção”, completa.
Suzana Queiroga
começou a trabalhar com infláveis há 10 anos, pelo anseio de ampliação dos
limites da pintura. “Ver a pintura fora do plano, no espaço. O material
transparente, os reflexos do espaço em torno na película de PVC colorido se
relaciona com aspectos da pintura, tais como transparências, manchas e
pinceladas”, explica.
Os primeiros
infláveis surgiram em Tropeços em Paradoxos, de 2002, três peças relacionadas
às pinturas da série de mesmo nome, que buscavam integrar o espaço real ao
campo da pintura e não possuíam forma de exibição fixa, podendo ser
reconfiguradas indefinidamente. Em 2005, foi a vez de Velatura, um inflável
penetrável no qual a ambição da artista era a de submergir na pintura e na
tinta. A pergunta onde está a pintura, dentro ou fora do inflável, levava ao
questionamento da ideia de lugar da obra.
Ao ingressar no trabalho o público também ficava tingido de vermelho pelo
filtro plástico transparente e se integrava à obra e desse ponto de vista o
espaço externo também fica cromatizado. Vitoria Suíte, de 2007, também inflável
e penetrável, em azul, seguiu as mesmas questões do Velatura.
A partir de
Vermelho Velofluxo, de 2008, inflável vermelho com gás hélio, a artista iniciou
sua experimentação com a leveza e a flutuação. A obra se desloca com suavidade
pela sala em função do deslocamento de ar provocado pela entrada das pessoas na
sala de exposição. No mesmo ano realizou o balão de ar quente Vôo Velofluxo, uma
aeronave cuja cúpula foi desenhada como uma cidade imaginada que sobrevoa
cidades reais e vê os diferentes desenhos urbanos de cima. Uma gigantesca
pintura tridimensional, 20x20x20 metros, que voa e tem o azul do céu como seu
ambiente. Uma experiência de suspensão e de retirada das amarras do real e da
gravidade. Na cesta o público experimentava a sensação de sobrevoar sua cidade
e sentir o espaço de maneira absolutamente distinta, encontrar o silêncio e o
deslizar do tempo.
Em 2012, Suzana
criou especialmente para a Casa França-Brasil, a escultura penetrável O Grande
Azul, com um volume de aproximadamente 68 metros cúbicos, que equivale a uma
área de 30 metros quadrados, na qual o público podia entrar e permanecer dentro
da obra O trabalho relacionava a cidade do Rio de Janeiro com o Porto e o mar e
também com a própria história da Casa França Brasil: a primeira alfândega e
ponto de entrada na cidade após longas travessias marítimas. Segundo o crítico
Fernando Cocchiarale, O Grande Azul inscreve-se no filão poético investigado
nestes últimos anos por Suzana (Velofluxos). “Este trabalho foi concebido como
memória do sítio original à beira-mar em que foi construída a Praça do Comércio
de D. João VI (atual Casa França-Brasil), o penetrável de plástico inflado, por
meio da transparência e da cor (azuis e verdes) dos materiais de que é feito,
evoca mar e céu. Cria uma ambiência cromática que articula cor (objeto) com
circulação, encontros e relaxamento (visitantes).
Suzana
Queiroga – Olhos d’Água
Curadoria: Guilherme Vergara
Abertura: 5 de outubro, às 17h
Exposição: 5 de outubro a 8 de
dezembro de 2013
Terça a domingo, das 10h às 18h
Ingresso: R$ 6,00
Livre para todos os públicos
Museu de Arte Contemporânea de
Niterói
Mirante da Boa Viagem s/n
Boa Viagem - Niterói
( 21 2620-2400 | 2620-2481
Realização:
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