Paulo Victorino
Esta matéria, de três anos atrás, foi retirada de meus arquivos e está sendo republicada num momento em que, após a tragédia do Rio de Janeiro, criou-se uma paranoia em torno da suposta insegurança dos edifícios de escritórios e apartamentos nas grandes cidades. Se, no Brasil, todo mundo era técnico de futebol, agora, todos se tornaram técnicos em estruturas e síndicos de edifícios estão sendo pressionados, na maior parte das vezes sem razão, para rever a estrutura do edifício que administram. Pior que isso, a opinião leiga está a comparar edifícios com mais de meio século, de estrutura mista (concreto mais tijolo sólido) com construções feitas dentro dos mais modernos padrões de arquitetura.
É sempre bom lembrar que, até a década de 50, não havia engenheiros de cálculo de estrutura. Os cálculos eram feitos por engenheiros civís e o concreto era misturado na calçada da rua por serventes de pedreiro, que jogavam, em uma betoneira portátil, areia, pedra, cimento e água. Depois, outros serventes, com carrinho de mão, transportavam esse concreto para a obra, sem qualquer controle de qualidade. Então, a utilização de tijolos sólidos, geralmente com 15 cm de largura, era uma segurança adicional para as estruturas.
As técnicas mudaram. Surgiu o engenheiro de estruturas, surgiram as empresas especializadas em concretagem, o IPT normatizou a estrutura de concreto, quanto a dureza, espessura, etc. e há uma responsabilidade legal das concreteiras quanto à qualidade do concreto fornecido, de maneira que, respeitados os cálculos estruturais, o concreto armado, por si só, é o elemento chave de sustentação do edifício, enquanto que os tijolos, mais leves, passaram a ter apenas uma função divisória.
Agora, se os cálculos de peso forem alterados, em consequência da mudança da mudança de finalidade do edifício, então, a estrutura pode ser comprometida. Por isso, achei interessante republicar esta reportagem de 2009, quando, um antigo edifício de escritórios foi transformado em sede de tribunal, alterando as características de uso e fazendo com que excesso de peso (neste caso, o papel!) se tornasse responsável pela ameaça às estruturas.
Vale como aviso: a grande ameaça nos edifícios modernos não é a das paredes que se retiram, que representam um peso a menos no prédio. A grande ameaça vem do peso que se acrescenta, com substituição de carpetes por ladrilhos hidráulicos, ou de paredes que se constrói em kits ou em apartamentos maiores para fazer um "3º opcional". Vem também das instalações elétricas que são sobrecarregadas com equipamentos modernos além do limite de carga de cada apartamento e que, ingenuamente, se procura resolver aumentando a resistência de carga dos fusíveis, o que aquece os fios e traz sobrecarga na rede do edifício.
A notícia abaixo é antiga, mas não é velha e mostra que o perigo pode vir de onde menos se imagina.
* * *
Estadão
Online
12/03/09 - 15h00 - Atualizado em 12/03/09 - 16h30
12/03/09 - 15h00 - Atualizado em 12/03/09 - 16h30
Processos provocam
rachadura em prédio de fórum em SP
Peso de
cerca de 2 milhões de processos compromete estrutura.
Quantidade de papel fez parede se distanciar do pilar de sustentação.
Quantidade de papel fez parede se distanciar do pilar de sustentação.
Da
Agência Estado
A
quantidade excessiva de processos no prédio do Fórum de Execuções Fiscais
Estaduais, no Centro de São Paulo, provocou fissuras na parede de todos os
andares do edifício, que tem apenas 12 anos.
O fórum,
que antes ficava na Zona Sul, foi transferido para o bairro da Liberdade há
pouco mais de um ano. O número de processos, de acordo com a juíza auxiliar Ana
Maria Brugin, que responde pela Vara de Execuções paulista e pela diretoria do
prédio, é superior a 2 milhões. Segundo o engenheiro do Tribunal de Justiça
Cláudio Roberto Vaguetti Ferrari, o volume de papel fez a parede se distanciar
do pilar de sustentação.
Em um cálculo aproximado, cada processo pesa, no mínimo, 50 gramas, o que renderia um peso mínimo de 100 toneladas de papel em uma laje totalmente despreparada para esse volume. A fissura começou no 11º andar e já atingiu a parede do 2ª pavimento. “A rachadura tem crescido cerca de 1 milímetro por dia. É assustador, pois muitas pessoas passam pelo fórum diariamente”, declara o advogado Cláudio Augusto Gonçalves Pereira, que acompanha o problema.
Para garantir a segurança dos funcionários uma empresa de engenharia particular realizou um laudo e recomendou que processos empilhados nos corredores fossem levados para um arquivo no subsolo, segundo explica o assessor da presidência do Tribunal de Justiça Paulo Sérgio Brant de Carvalho. Essa mudança começou a ser feita em fevereiro.
Em um cálculo aproximado, cada processo pesa, no mínimo, 50 gramas, o que renderia um peso mínimo de 100 toneladas de papel em uma laje totalmente despreparada para esse volume. A fissura começou no 11º andar e já atingiu a parede do 2ª pavimento. “A rachadura tem crescido cerca de 1 milímetro por dia. É assustador, pois muitas pessoas passam pelo fórum diariamente”, declara o advogado Cláudio Augusto Gonçalves Pereira, que acompanha o problema.
Para garantir a segurança dos funcionários uma empresa de engenharia particular realizou um laudo e recomendou que processos empilhados nos corredores fossem levados para um arquivo no subsolo, segundo explica o assessor da presidência do Tribunal de Justiça Paulo Sérgio Brant de Carvalho. Essa mudança começou a ser feita em fevereiro.
O próprio
Tribunal de Justiça confirmou oficialmente que o problema poderia se agravar,
“caso não houvesse intervenção”. “O peso excessivo existe, mas a estrutura do
prédio não foi abalada. Por enquanto, não há nenhum risco”, afirma
Carvalho.
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