João Carlos Lopes dos Santos
Discorrendo sobre
o óbvio
o óbvio
Tenho uma certa dificuldade de responder o óbvio. No Manual do Mercado de Arte, defini assim:
«Mercado de arte é a via processual pela qual transita um segmento de pessoas físicas e jurídicas em torno do objetivo de comercializar obras de arte, que, com base na lei da oferta e da procura, determina os relacionamentos e, principalmente, estabelece preços.»
Tecnicamente, salvo melhor definição, é isso. Dada a evidência do objeto da pergunta, configura-se um axioma - premissa imediatamente evidente que se admite como universalmente verdadeira, sem necessidade de demonstração.
Portanto, não haveria necessidade de que fosse perguntado e, por via de conseqüência, de ser respondido. Porém, para que não aflorem dúvidas nas cabeças dos não-iniciados, vou lhes contar duas histórias.
A hora de «arrumar»
as paredes
as paredes
A primeira, faz parte de um rol de fatos e mais fatos do meu dia-a-dia. Teria muitas histórias parecidas para contar, mas vou destacar esta.
Recém-casados procuram arrumar a casa da melhor maneira que podem e com o dinheiro que têm. Na sua maioria, compram quadros de artistas de rua, em feiras, em leilões realizados em cidades de veraneio.
Esses quadros, quase sempre, estão muito em conta, exatamente do tamanho do dinheiro que sobrou do orçamento do mês. Às vezes, custam o que se tem no bolso.
A hora de «trocar»
as paredes
as paredes
Foi assim que aconteceu com um casal amigo, que hoje têm os filhos criados. Há cerca de cinco anos, o casal me procurou para se assessorar na compra de novos quadros. A vida deles tinha mudado, o orçamento doméstico estava folgado e me apresentaram valores limites, que aqui não interessa comentar. Parede pronta e muito bonita, surgiu um problema: o que fazer com os quadros comprados na lua-de-mel?
Encurtando o texto, recebi tais quadros como parte do pagamento dos outros. Realmente, não havia outra solução. Mandei fazer uma limpeza nas telas e colocar novas molduras. Os quadros ficaram embrulhados em um plástico preto no depósito.
Uma observação: todos os quadros, caros ou não, merecem uma limpeza e uma nova moldura, assim como serem bem conservados; até pelo que justifica o final desta história, que deveria ser mais curta do que está sendo...
Novos donos para as
velhas obras
velhas obras
Uma semana depois, me liga outro amigo, recém promovido à gerência de uma grande firma, que à época residia no subúrbio (periferia para os paulistas...). Pediu-me quadros que custassem muito pouco, pois pretendia apenas colorir as paredes.
Enviei-lhe os tais quadros - eram cinco - para que a mulher e as filhas pudessem escolher. Ficaram com todos, literalmente impactados diante da beleza das fantásticas obras de arte que lhes havia mandado.
Todos faziam juras de amor eterno aos quadros. Quando lhes disse que, futuramente, se quisessem, poderíamos trocá-los por outros, ficaram indignados; disseram, em uníssono, que aqueles quadros jamais sairiam da casa deles, principalmente um casario de Ouro Preto-MG, com uma assinatura ilegível.
O amor é eterno
enquanto dura
enquanto dura
Três anos depois, o meu amigo gerente, profissional muito capaz na sua área de atuação profissional, comprou um apartamento no Recreio dos Bandeirantes, um dos bairros mais promissores do Rio de Janeiro, já que é uma extensão natural da Barra da Tijuca, que todos conhecem. Pediu-me outros quadros, num patamar mais elevado de preços.
Aí perguntei: e os outros cinco quadros? E o casario de Ouro Preto? Ao que responderam: é João Carlos, você tinha razão...
Fim de história: consignei, para eles, os tais quadros em um leilão de arte apropriado e ainda cheguei a ver, no final do leilão, um casal saindo literalmente extasiado com o casario de Ouro Preto na mão.
Mercado de arte é isso...
Arte também é
investimento
investimento
Agora, em um outro patamar, vou lhes contar uma nova história. Transcreverei um artigo que fiz em 10 de Março de 1997, que também consta do Manual do Mercado de Arte. O artigo tem como título: "Orientação profissional personalizada para decisões seguras com obras de arte". Vamos a ele.
Desta vez, me ocorreu enfocar o paralelismo entre dois fatos acontecidos no mercado de arte. Um, presenciamos em São Paulo e o outro se passou em Nova York.
O valor de um
Frans Post
Frans Post
O primeiro fato aconteceu em julho de 1995, no leilão da Bolsa de Arte de Rio do Janeiro, realizado na Capital de São Paulo, ocasião em que um grande colecionador, presente ao pregão, com a tranqüilidade própria daqueles que sabem o que fazem, arrematou um óleo de Frans Post, intitulado "Convento de São Francisco em Igaraçu", pelo valor equivalente a US$. 865.384,61.
Muitas pessoas alheias ao mercado de arte comentavam que seria impossível ao arrematante reaver aquela quantia, quando pretendesse, no futuro, vender o quadro em questão.
O segundo fato aconteceu um ano e meio depois, em fevereiro de 1997 no leilão da Sothebys de Nova York, quando outro óleo de Frans Post, intitulado "A Cidade e o Castelo de Frederik na Paraíba", foi arrematado por US$ 4.512.500,00.
É óbvio que cada quadro é uma história; mas os números são bem eloqüentes.
Quanto o técnico é o
melhor amigo
melhor amigo
Nas aquisições de obras de arte, em qualquer patamar de preço, mesmo que só se objetive a decoração da casa, quando bem orientadas, haverá sempre grandes possibilidades de lucro, tempos depois, na hora de uma nova decoração. Temos artistas excelentes por todo país, muitos com brilhante futuro, com preços ainda bem acessíveis.
Sugiro àqueles que tenham pouca vivência no mercado de arte, antes de concretizar uma transação de compra, venda ou permuta de obras de arte, que procurem a orientação de um profissional do mercado da sua absoluta confiança.
Mercado de arte também é isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.