quinta-feira, 24 de março de 2011

Um leilão de arte em Fortaleza

João Carlos Lopes dos Santos          
    Na noite de 20 de dezembro de 2000, em São Paulo, o Vasco da Gama decidia a Copa Mercosul com o Palmeiras. O primeiro tempo terminou 3 a 0 para o Palmeiras, com o time do Vasco morto em campo. A torcida do Palmeiras comemorava a vitória no intervalo.
    Porém, o defunto ainda estava quente e ressuscitou. Virou o jogo, fazendo um heróico 4 a 3 e o foi campeão. E eu, que do alto da minha da sabedoria e experiência de botafoguense, achando que já tinha visto tudo no futebol...
    Autoconfiança, em excesso, atrapalha; só erramos quando não sabemos nada ou quando pensamos que sabemos tudo; quando a situação está tranqüila, é que se deve redobrar a atenção. Jamais tropeçamos nas pedras grandes do caminho, estas, nós vemos de pronto, já nas pequenas...
    Os antigos já diziam: não há mal que sempre dure, tampouco bem que nunca se acabe; diziam também: dia de muito, véspera de pouco; ou ainda: vivendo e aprendendo, e vai por aí...
Não era um plano,
era um devaneio
    Corria o ano de 1986, e os profissionais do mercado de arte saboreavam o seu ano de ouro, o ano do Plano Cruzado, época das vacas gordas, de juros bancários ridículos, de um furor consumista hoje inacreditável.
    Comprava-se de tudo e tanto compravam que faltavam mercadorias. O dinheiro sobrava no mercado de arte. Fora dele, tudo estava barato e com preços congelados por «decreto» governamental.
    Já nos leilões de arte do eixo Rio-São Paulo, se vendia de tudo e por preços astronômicos; nos leilões não se pode congelar os preços, alguém levanta o dedo e, na hora, decreta o descongelamento...
    Já em outros mercados, por exemplo, um automóvel Volkswagen Santana, carro de bacana na época, custava 120 mil cruzados; eu tinha dinheiro no banco para comprar dois, mas não havia carro para vender.
No Ceará tem disso, sim
    Surgiu no mercado do Rio de Janeiro a notícia: leilão em Fortaleza. Já estávamos no final do mês de novembro de 1986. Peguei um avião e fui ver como é que era um leilão de arte no Ceará. Quem era do mercado de arte pagava viagem aérea e hospedagem cinco estrelas, como se fosse um lanche no boteco da esquina. Como o dinheiro era fácil... Só não deu para enriquecer porque, se, de um lado, se vendia caro, de outro, a reposição do estoque era ainda mais dispendiosa.
     Quem organizou o leilão, foi o falecido estilista Gregório Faganello, em seu espaço na Aldeota - um misto de loja de roupas femininas e galeria de arte. Na noite do leilão, às 20h30m, o Jornal Nacional anunciou o Plano Cruzado-dois.
    O leilão, marcado para as 21h, depois da má notícia, começou atrasado e com meia dúzia de gatos-pingados. Logicamente, foi um desastre. O brasileiro sempre fica, de início impactado, e depois cabreiro, quando recebe notícia de planos econômicos.
    Ninguém poderia supor, meia-hora antes, que o mercado de arte fosse despencar e que só iria começar a arribar três ou quatro anos depois, quando, logo após, em 1990, o Plano Collor – aquele que deixou todo mundo com 50 cruzados no bolso - viria a derrubar o mercado de novo.
     Moral da história: há que se ter sempre, como uma das possibilidades a serem ponderadas, de que o mercado pode virar do dia para a noite.

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