segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Joaquim Tenreiro (1906-1992) - Pintor e moveleiro, em tudo ele era um artista consagrado

Um artífice chega ao Brasil
     Joaquim Tenreiro nasceu no ano de 1906 em Melo (Portugal) e faleceu em Itapira (SP) em 1992.
     Filho de um marceneiro, aos nove anos começou a mexer com ferramentas na oficina do pai, ajudando-o em pequenos trabalhos e adquirindo assim, desde pequeno, a habilidade artesanal e a familiaridade com a madeira que caracterizariam seu fazer adulto.
     Tenreiro já conhecia o Brasil. Trazido pelos pais, viveu aqui em dois períodos, dos 3 aos 7 anos e, depois, dos 19 aos 20 anos.
     Mais tarde, já casado, decidiu emigrar de vez para o Rio de Janeiro, onde a princípio ganhou a vida como carpinteiro.

Iniciando-se na pintura
     Em 1929 matriculou-se num curso de desenho mantido pelo Liceu Literário Português e, dois anos mais tarde, seria dos membros mais ativos do recém fundado Núcleo Bernardelli.
     Todos seus estudos, nessa fase, estavam ligados ao desenho. Só começou a pintar em 1935 ou 1936, até porque - como diria anos mais tarde a Frederico Morais -, "telas e tintas custavam dinheiro e este era curto".
Ganhando a vida como decorador
     Enquanto aprimorava suas aptidões artísticas, Tenreiro ia adquirindo boa reputação como designer, trabalhando de 1933 a 1943 em firmas como a Laubisch & Hirth, a Leandro Martins ou a Francisco Gomes, especializadas em fornecer móveis imitativos dos velhos estilos franceses, italianos, portugueses e de outras origens.
      Era a coqueluche da época, ter um móvel estilizado. "Luizes de todos os números e renascimentos tardos de 400 anos", como diria numa entrevista em 1975.
     Desde 1934 desenhava, a título experimental, bufês e outros móveis de linhas já não tradicionais, que por isso mesmo não achavam comprador.
Móveis em estilo tupiniquim
     Em 1941, veio a grande mudança, ainda quando ainda trabalhava na Laubisch & Hirth. Atendendo uma encomenda, projetou para a casa do médico e colecionador Francisco Inácio Peixoto, em Cataguases, os primeiros autênticos tenreiros.
     Surgiram, então, os móveis inteiramente concebidos, projetados e executados por ele, e admiráveis pela sobriedade e beleza da forma e pela sábia utilização das preciosas madeiras brasileiras, combinadas entre si, ou a têxteis especialmente criados por artistas plásticos de renome.
     Para realizar tais móveis, Tenreiro debruçou-se atavicamente sobre a sua ancestralidade lusitana, responsável em séculos idos pelo surgimento de tantas obras-primas de singeleza e funcionalidade, e não em jornais e livros estrangeiros de Design, que sequer os havia no Brasil quando começou.
Da ideia nasceu uma empresa
     Já em 1943 Tenreiro montara no velho Centro do Rio sua primeira loja-oficina - a Langebach e Tenreiro Ltda. Em 1947 abriu loja na então elegante Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, transferindo-a em 1962 para a Praça General Osório em Ipanema.
     Por volta de 1953, os negócios iam tão bem que foi necessário abrir filial em São Paulo.
     No ano seguinte a primitiva oficina da Rua da Conceição ficara pequena e tinha de ser trocada pela espaçosa fábrica em Bonsucesso, na qual, num dado momento, chegaram a trabalhar 100 artesãos.
O alto preço do sucesso
     A despeito porém do reconhecimento profissional e da conseqüente retribuição material, ou por causa dela, Tenreiro se sentia infeliz.
     Não lhe davam trégua. Eram traições e disputas internas, ódios e mesquinharias que tornavam-lhe a vida quase insuportável.
     Assim foi que em 1967, após entregar sua última encomenda - a decoração do salão de banquetes do Palácio Itamaraty em Brasília -, Tenreiro reavaliou se valia pagar tanto pelo sucesso obtido.
Numa opção consciente, resolveu, de uma vez por todas, fechar oficina e lojas para, de então por diante, dedicar-se exclusivamente às artes plásticas, retomando assim um caminho havia muito interrompido.
De volta às artes plásticas
     Liberado de seu compromisso com o Desenho Industrial, a partir de 1967, e por mais de 20 anos, Tenreiro retoma a pintura e, principalmente, faz relevos e objetos em madeira.
     Desse momento final, surgiu uma longa série de individuais, retrospectivas, premiações e homenagens especiais.
    Segue-se a execução de grandes obras, como, em 1969, o painel   para a Sinagoga Templo Sidon na Tijuca, a portada da Capela Ecumênica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, de 1974, ou os dois painéis em fibra de vidro, cada um medindo oito por seis metros, realizados em 1975 para o novo auditório do SENAI na Tijuca.
     Como se percebe, nessa fase final não seria com pinturas, mas como escultor, que o artista mais se destacou, produzindo relevos, treliças e colunas em madeira policromada que constituem algo de novo na arte brasileira de então.
Lembrando Guignard
     Como pintor - atividade que desenvolveu principalmente na década de 1940 - sua contribuição não deve ser de modo algum subestimada. Praticava então a paisagem, o retrato, o autorretrato e a natureza-morta.
     Seu desenho era particularmente sensível, chegando a evocar de perto o de Guignard e de um colorido expressivo.
     Nas paisagens, principalmente, revela-se mais pessoal, sobretudo quando utilizava, em poéticas evocações, do casario e da vegetação de Santa Teresa e de outros bairros pitorescos do Rio de Janeiro, ou das cidades históricas de Minas, um esquema peculiar de composição, consistindo em observar a cena desde o alto e à distância, enfocando-a, como no visor de uma câmera fotográfica, em cortes inusuais e audaciosas sucessões de planos.
     A cor, nessas paisagens, é a tonal, atmosférica, e a impressão transmitida é de serenidade e equilíbrio.
     Já nos retratos e figuras predomina a marca de Guignard, inclusive nos cortes composicionais, o mesmo podendo ser dito das naturezas-mortas, algumas, exemplo de despojamento formal.
A inconstância prejudica a avaliação de sua obra
     Prejudicada pelo sucesso obtido com seu mobiliário, até praticamente cessar na segunda metade dos anos 40, a atividade de Tenreiro, enquanto artista plástico, reaparecerá a intervalos, de então até os anos 60.
     Assim, em 1946 e 1949 realizou individuais no Rio de Janeiro e em São Paulo, em 1960 recebeu menção honrosa em Desenho no Salão Nacional de Arte Moderna, e em 1965 participou da VIII Bienal de São Paulo com relevos taxeados e óleos sobre neoplan da série Ciclistas, tema recorrente em sua produção.
     Postumamente a contribuição, tanto do designer quanto do artista, tem sido exaltada, aquela com ênfase compreensivelmente maior, em retrospectivas como a de 1998 no Museu de Arte Contemporânea de Niterói.

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