quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Orlando Teruz (1902-1984) - Sangue árabe correndo nas veias de um artista brasileiro

Sangue árabe e
coração brasileiro
    Descendente de árabes, Orlando Teruz nasceu no Rio de Janeiro em 1902 e faleceu na mesma cidade em 1984.
     Tinha 18 anos quando matriculou-se na Escola Nacional de Belas-Artes, tendo tido por mestres a Rodolfo Chambeland e Batista da Costa, entre outros.
    A partir de 1924, participou do Salão Nacional de Belas Artes, conquistando sucessivamente menção honrosa (1924), medalha de bronze (1925), medalha de prata (1926), o prêmio de viagem ao estrangeiro (1937) e o prêmio de viagem pelo Brasil (1942).
     Em 1931, com vários outros artistas de orientação moderna, foi um dos expositores do chamado Salão Revolucionário, organizado por Lúcio Costa.
O mundo descobre
o artista
      Integrou, também, representações de artistas brasileiros em várias coletivas realizadas fora do país, em Londres, 1944; Buenos Aires e Montevidéu, 1945, Vaticano, 1958, etc.
     Realizou também inúmeras individuais em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza.
     Vários museus possuem obras suas, entre eles o Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e o de Museu de Artes de São Paulo, o Hermitage em São Petesburgo, o Carlsberg de Copenhague e o do Vaticano.
Ateliê transformado
em museu
     Durante uma carreira, que se estendeu por mais de 60 anos, pintou possivelmente 8 mil quadros. Nem toda obra está catalogada, e sua família estima que, no total, foram produzidas em torno de 13 mil obras.
Muitos de seus melhores quadros foram conservados como patrimônio familiar.
     Num gesto de raro despreendimento, a família renunciou à venda dessas obras, fundando o Museu Teruz, mantido na antiga residência-ateliê da Muda da Tijuca, no Rio de Janeiro.
     Os dois filhos do artista, Rogério e Alexandre, são igualmente pintores.
Mais profundidade do que
diversidade
     Sobre seu estilo, comenta o crítico José Roberto Teixeira Leite:
     «Ao longo de uma extensa carreira de mais de seis décadas, pouco modificou-se o estilo de Teruz: a sua é uma pintura adivinhável em sua tipicidade, imutável em sua técnica e em sua temática, decerto porque esse artista, bem cedo, de posse de seus recursos expressivos e de um mundo-de-idéias próprio, preferiu explorá-los quase que até à exaustão e à monotonia.
     «Preferiu, em outras palavras, aprofundar a diversificar, dando de um único tema seguidas interpretações - favelas no morro, cavalos, passistas de frevo, cirandas, negrinhas de duros seios e meninas na gangorra.
     «Teruz domina a técnica da pintura, apreendida junto a mestres corno Chambelland e Batista da Costa.
     «Mas é tolo falar, como se tem falado tanto, em técnica dos primitivos flamengos ou dos primitivos italianos em relação a esse artista: o fato de ter visto nesse ou naquele museu esse ou aquele quadro não deu evidentemente a Teruz a posse de um procedimento técnico à la Van Eyck ou à la Antonello, simplesmente porque, em tais artistas, técnica e ideal pictórico são interligados, uma complementando o outro.»
Uma técnica genuina
     Prossegue Teixeira Leite:
     «Na verdade, a técnica de que se utiliza Teruz é a boa e velha técnica que se aprendia nas academias, aquela indispensável cozinha que é preciso primeiro saber para depois de esquecer e começar a fazer. É a mesma técnica de Portinari e de Guignard, de Osir e de Gobbis.»
     «Mais, porém, do que simplesmente pintor, Teruz é artista, alguém dotado de emoção que, através de sua arte, transmite essa emoção a outros.
     «Se muitas vezes, sobretudo a partir da década de 1960, à força de tanta repetição, certos tons brilhosos nos enfadam, a composição nos parece fácil e o desenho frouxo, em outras - mormente no começo de sua carreira - o que pinta possui o dom de tocar-nos, não evocasse ele o longínquo mundo da infância, as humildes alegrias do povo sofrido, o cenário de morros e cidades do interior.
     «Tudo é mesclado com freqüência a certa nota metafísica ou onírica - cavalos de sonho, de crinas arrepiadas ao vento como os de Füssli -, e a discreta atmosfera erótica, traduzida em jovens corpos femininos de redondos contornos, coxas à mostra, o colo desnudo, roliços braços e pernas em movimentos frenéticos, numa atmosfera bem brasileira de sensualidade.»
Fonte: CD-Rom «500 Anos da Pintura Brasileira».
IMAGENS

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.