segunda-feira, 14 de março de 2011

EXPOSIÇÃO DE MÁRIO CRAVO JÚNIOR NA PAULO DARZÉ GALERIA DE ARTE (SALVADOR-BA)



Moderno e atual, nos materiais, nas técnicas e na forma de expressão, criando uma arte no sentido da mais livre poética de sua expressão como forma no espaço, encarando problemas e soluções de ordem plástica, através de imensos recursos técnicos, pesquisas e um caráter essencialmente experimental, as suas esculturas revelam e fazem surgir, “uma obra referencial para um homem e uma terra”, escreveu Pietro Maria Bardi sobre Mário Cravo Júnior, considerado por todos os estudiosos da história da cultura como um dos pioneiros da arte moderna na Bahia e um dos grandes artistas brasileiros no século XX, que a partir do dia 19 de abril realiza exposição na Paulo Darzé Galeria de Arte.

Mário Cravo Júnior nasceu em Salvador, Bahia, no dia 13 de abril de 1923. Estudou nos Estados Unidos, Universidade de Syracuse, trabalhou em Nova Iorque, viveu e realizou exposições na Alemanha, ganhou prêmio na I Bienal de São Paulo, participou da XXVI Bienal de Veneza, da IV Exposição Internacional de Escultura Contemporânea no Museu Rodin, Paris, da I Bienal Nacional de Artes Plásticas, em Salvador, com sete esculturas criadas na proporção do claustro do Convento do Carmo, formulação até aquele momento inovador em conceito e forma, nas suas peças medindo de três a sete metros de altura, que desde o início realiza mostras e possui trabalhos em locais públicos, experimentando um contato direto da arte com o homem urbano, suas obras estão espalhadas pelo mundo nos Museus de Arte Moderna de Nova Iorque, Jerusalém, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, da Pampulha em Minas Gerais, ou ainda nos Museu Hermitage (Rússia), Walker Art Center (Minneapolis, Estados Unidos), entre muitos outros, numa trajetória aonde “a experiência da forma, a vivência criativa e o senso táctil da matéria conferem grande importância e dignidade a uma obra escultórica polimorfa e pujante”, disse Wilson Rocha, “tornando-o figura singular de excepcionalidade em nosso meio e uma das mais seguras expressões da arte brasileira”.
Utilizando tanto a madeira, como o ferro, latão, outros metais, resina de poliéster, fibra de vidro, sucata, metal polido, pedra sabão, pedra grafite, com apropriações, montagens e remontagens, surgem esculturas giratórias, exus, cristos, figuras, móbiles, a sua arte sendo uma “das primeiras a procurar nas nossas raízes culturais inspiração para o seu trabalho, na forma, material e conteúdo, sendo a sua escultura o ponto mais revolucionário do movimento modernista na Bahia”, assinala Matilde Matos. “Foi também o que mais provocou, sempre tentando e resolvendo todos os meios, técnicas, materiais, mergulhando fundo para trabalhar com e não contra o material escolhido, sabendo tirar partido do que tinha à mão, sempre mantendo seus valores, sem se preocupar se o que faz agrada ou deixa de agradar, recusando-se a encantar pela aparência”. Para o crítico Jacob Klintovitz, “Mário Cravo Júnior é um artista pesquisador, curioso de todas as coisas, inventor de formas e experimentador de materiais e instrumentos, num trabalho ciclópico. O mundo está aí para ser descoberto, como se ele fosse habitante de outro planeta que, por acaso, descobriu-se aqui. Lembra, neste particular, Leonardo da Vinci, que parecia não ser daqui e, por isso, precisava tudo estudar, o corpo, a folha, o ciclo das águas. Mário Cravo é também um viajante do tempo que atravessou a barreira inesperada e, agora, precisa entender este mundo daqui”.

“Eu sempre tive interesse, talvez devido ao meu temperamento rebelde, de reelaborar em cima. Eu queria interpretar o troço, entende?” diz Mário Cravo Júnior num depoimento a Claudius Portugal. “Eu não tinha capacidade e não tenho até hoje, a verdade seja dita, desse senso disciplinar, de uma dependência a uma temática, por exemplo, eleita. Isso foge. É possível que esta insegurança - veja bem que eu vou usar esta palavra -, esta instabilidade, seja uma das chaves da minha relativa autonomia.


Porque eu nunca pensei em estabelecer uma referência estilística. Veja bem: sou um homem que faço esculturas não por impulso lógico. Eu faço isso porque em tenho imenso prazer em fazer. Eu gosto de suar, criar um problema e me consumir nele. Foi essa opção que as artes plásticas trouxeram para mim. Foi de fazer algo que realizasse o meu relacionamento com o universo, em termos de comunicação. Quer dizer, as variáveis e as modificações, elas são muito mais aparentes que reais”.
E prossegue: “Porque se um dia outra pessoa se interessar em ver de perto o meu currículo na forma de objetos vai ver que há uma linha, há uma estrutura dentro dele. Uma escultura de quarenta anos passados é como se tivesse feito agora. Como eu posso retornar também a abordar uma problemática aqui em poucos segundos. Eu não tenho uma justificativa intelectual para o retorno, como a soma de materiais. Entendeu o que é? Às vezes estou interessado num assunto. Faço uma série de objetos que me levam de volta ao convívio e emoções de minha primeiríssima infância. Esse negócio de quatro, cinco anos de idade. Os objetos móveis que faço e que me divertem profundamente. Por que razão? Mas não há razão para você se rever num processo de reelaboração e de recriação”.
Para finalizar diz: “Os homens estão sempre querendo explicações para um ato que não tem explicações. Não é necessário ao ato criador uma explicação a não ser ele próprio. As pessoas tem muita dificuldade em apreender o sentido da liberdade  – liberdade entre aspas – da criatividade. As pessoas sempre perguntam: O que isso significa? E eu dizia: Mas não significa, a coisa é. Gostem ou não gostem, seja simpático ou não. Tudo bem, mas a significação é o ser. Para mim, arte é resposta. Não sou eu que faço a polêmica. Eu estimulo, eu libero as formas”.

A Paulo Darzé Galeria de Arte está localizada na Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória, Salvador/Bahia, (Tel.: (71) 3267.0930 Cel.: (71) 9918.6205 – www.paulodarzegaleria.com.brpaulodarze@terra.com.br), e fica aberta a visitação de segunda a sexta, das 9 às 19 horas, e sábados das 9 às 13 horas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.