A escola risonha e franca
Antigamente, a escola era risonha e franca. Não a Escola Nacional de Belas Artes, criada em 1816, após a chegada da missão francesa ao Brasil. Esta conservava, ainda, o mesmo ranço dos primeiros tempos, mantendo seus alunos presos a uma severa disciplina, não apenas quanto ao comportamento como também quanto à aplicação, enquadrando-os a processos de ensino e de estilos já superados.
A escola risonha e franca era aquela criada em 1916 pelo pintor Levino Fânzeres (1884-1956), aluno consagrado da Escola Nacional, discípulo de Batista da Costa e, como este, um ardoroso fã da paisagem. De maneira sugestiva, seu criador deu a este curso aberto o nome de Colmeia de Pintores do Brasil.
Como uma faculdade ao ar livre, não havia regras de espécie alguma, cada um pintava o que desejasse, da forma que achasse conveniente. A interferência do mestre era para corrigir desvios técnicos, aprimorar o conjunto, fazendo o aluno aperceber-se das falhas cometidas. Jamais interferia na escolha do tema, ou da concepção individual dos aprendizes quando à utilização dos pincéis ou na seleção das tintas.
Influências marcantes
Sua escola funcionou por décadas, no mesmo lugar e hora. Poucos, dentre seus alunos, destacaram-se na pintura nacional, mas todos aprenderam sem traumas, desenvolveram-se sem limitações, e levaram sua arte até o ponto que julgaram necessário para sua satisfação pessoal.
Entretanto, pelo menos dois nomes encontraram ressonância nos meios artísticos brasileiros: um deles foi Antônio Garcia Bento (1897-1929), aluno da primeira leva de iniciantes, que é relacionado hoje entre os melhores marinhistas do país, ao lado de Navarro da Costa (1883-1931), João Batista Castagneto (1851-1900) e José Pancetti (1902-1958).
O outro é Sérgio Telles, bem mais jovem que Garcia Bento, que participou das últimas turmas da Colmeia, onde aprendeu os primeiros elementos da arte pictórica, e cuja influência se faz presente em toda a primeira fase de sua obra. O estilo deste pintor só se alterou muito tempo depois, na convivência com a pintora Nivouliès de Pierrefort (1879-1968).
Entre a pintura e a diplomacia
Sérgio Telles nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1936 e já aos nove anos de idade montava seu cavalete, todos os domingos, na Quinta da Boa Vista para receber a preciosa orientação de Levino Fânzeres. Aos 18 anos, expondo pela primeira vez no Salão Nacional de Belas Artes, recebeu um prêmio de viagem pelo país, escolhendo como local a Bahia. No ano seguinte, de volta ao Rio de Janeiro, realizou sua primeira individual.
Não tinha intenções de transformar a pintura em sua principal e única atividade e, em 1955, ingressou na carreira diplomática, o que não representou nenhum inconveniente à sua vida de artista, já que, sendo obrigado a viajar constantemente ao exterior, teve a grande oportunidade de tomar contato com novos cenários, novas técnicas, bem como de assimilar processos utilizados em outras partes do mundo.
Modernismo, mas com moderação
Fazendo opção definitiva pela arte figurativa, sua obra apresenta, entretanto, duas fases bem distintas: a acadêmica, que lhe foi inculcada pelo professor Levino Fânzeres e a moderna, influência indelével de seu convívio com Ana Maria Nivoliès de Pierrefort.
Pinta paisagens, também, mas não pode ser considerado apenas um paisagista, pois seu trabalho percorre todos os gêneros, desenvolvendo com rara felicidade todos os temas a que se propôs. É uma pintura eclética, não apenas quanto ao gênero, como quanto ao tema, tornando-se, pois, agradável, um passeio pela seleção de pranchas relativas a seus quadros. Pintura leve, mas de tons fortes, lembrando as experiências fauvistas do princípio do Século 20, mas com um evidente toque de modernidade. (Texto de Paulo Victorino)
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