Todo profissional de sucesso tem uma história para contar. Ninguém vira floricultor por ter vivido eternamente num mar de rosas. Invariavelmente, o sucesso profissional vem alicerçado na tríade sofrimento, trabalho e foco absoluto.
Sei de filho que se tornou excelente advogado para tirar o pai injustiçado da cadeia ou resolver uma intrincada causa que envolvia a família. Sei do caso de um engenheiro que, saindo de sua área profissional, se tornou uma referência em previdência pública e privada, objetivando proteger o filho que poderia ficar indefeso após a sua morte. Sei de profissionais da área de saúde que ficaram famosos em suas especialidades, com o único objetivo de tentar salvar a vida de um ente querido.
Tais fatos nos demonstram que é preciso ter um objetivo na vida e, fundamentalmente, dar foco a ele. Mesmo que não se consiga êxito no fato gerador do foco – o que será sempre motivo de tristeza –, a humanidade, penhorada, sempre agradecerá, pois é assim que se forjam os grandes profissionais.
O fisioterapeuta – cada um
paga o seu preço
paga o seu preço
O menino não aprendeu a andar, aos nove meses começou a correr... Como sempre acontece com quem queima etapas, volta e meia se espatifava num portal, fazia um galo enorme na testa e os pais, preocupados, juravam que o garoto ia ficar deformado.
O gordinho mais rápido que já vi, um dia quebrou a clavícula ao cair da cama do irmão. Tinha um ano e um mês.
Mesmo com o gesso, que lhe tomava o braço esquerdo e parte do tronco, não parava de correr. Porque ainda não sabia frear, a toda hora batia nos móveis e portais.
Um mês depois, voltamos ao ortopedista para a retirada do gesso. Lembro-me que o médico serrou o gesso e, retirando-o, jogou em direção a um cesto de lixo. O menino, numa linguagem enrolada e chorosa, esbravejou como querendo dizer que ele (o médico) não poderia fazer aquilo com um objeto dele; afinal, o gesso tinha sido seu companheiro por cerca de 10% de sua existência.
Viemos embora, mas o gesso ficou por lá mesmo sob os protestos do olhar choroso do garoto.
As intermináveis sessões
de fisioterapia
de fisioterapia
A partir daí, o menino não saiu mais da fisioterapia... Posso lhes dizer que foi uma pré-graduação em Fisioterapia que durou cerca de 20 anos. Pós-graduação, hoje em dia, todo mundo tem... Talvez seja ele o único profissional da área, na face da terra, que tenha feito um brilhante curso de pré-graduação. Garanto-lhes que foi um "cursinho" bem caro e muito sofrido...
No futebol, que jogava muito bem, era um volante com grande vocação para fazer gols. Invariavelmente, chegava arrebentado das peladas do nosso condomínio e, por isso ou por aquilo, tinha que reiniciar as sessões de fisioterapia.
Hora de escolher
uma profissão
uma profissão
O garoto não foi um bom aluno, muito pelo contrário. Gostava mesmo era de jogar futebol e saber das notícias do Flamengo. Ninguém é perfeito... Foi levando a vida assim, até concluir o segundo grau.
Chegou a hora do vestibular e a pergunta era inevitável:
- O que você vai fazer, Cadu?
- Fisioterapia. Disse rápido, sem pestanejar.
- Não acredito... Você não está saturado desse negócio? Por que você não tenta medicina?
- Vou fazer fisioterapia!
E não é que ele passou no vestibular...
O estalo de Vieira
Aconteceu com ele o famoso estalo do Padre Antônio Vieira. Tinha vinte anos e sua vida mudou radicalmente. Deu foco absoluto à Fisioterapia. Daí em diante, dia e noite, vivia debruçado nos livros e virou excelente aluno. Por sorte ou destino, arranjou uma namorada que estudava medicina, focada como ele. Passava e ouvia os papos telefônicos entre os dois. Namoravam, falando de anatomia, fisioterapia, estetoscópio e outros assuntos correlatos.
A fisioterapia, decerto, passou a ser o seu monotema.
Ele fez um estágio de dois anos com o Dr. Nilton Petrone, o internacionalmente conhecido Filé, o fisioterapeuta a quem o Ronaldo Fenômeno agradeceu a sua recuperação em rede mundial de TV, depois do jogo final da Copa do Mundo de 2002.
Quando o garoto cursava o sétimo período da faculdade, em uma das minhas palestras sobre mercado de arte, na Barra da Tijuca, contei esta história – que só conhecia até aquele momento –, exemplificando o que era dar foco absoluto à profissão. Naquela oportunidade falei: anote o nome do garoto, vocês ainda vão ouvir falar dele.
Formado, logo iniciou a pós-graduação e, concomitantemente, foi contratado pelo Centro Integrado de Reabilitação e Saúde Fisio R-9, uma parceria da Universidade Estácio de Sá e o futebolista Ronaldo Luís Nazário de Lima, que, à época, jogava no Barcelona ou Real Madrid.
Ninguém pediu por ele, já que não temos conhecimento pessoal com os acima citados. Tudo foi conseguido pelo seu trabalho e méritos pessoais.
Seis meses depois da inauguração da Fisio R-9, uma referência em Fisioterapia, veio a "triste notícia" de que ele estava fora dos planos da clínica... Foi um baque, para o nosso fisioterapeuta. Ele já tinha a Equipe da R-9 como gente da família. É que a Universidade Estácio de Sá decidiu abrir a Fisioniterói, que começou a funcionar em março de 2003.
E, assim, o monomaníaco-fisioterapeuta foi mandado para Niterói para ser o coordenador da clínica e, de imediato, começou a dar aulas na Faculdade de Fisioterapia de lá, como professor-adjunto.
Assim, em 18 de fevereiro de 2003, após treze meses da sua formatura, aos 25 anos, o Dr. Carlos Eduardo Lopes dos Santos – o Cadu, para os íntimos – ministrou a sua primeira aula de traumato-ortopedia para 45 alunos da turma da manhã do sexto período de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá – Campus Niterói.
Em junho de 2003, já implantada a Fisioniterói, onde deixou com saudades uma equipe de amigos, de lá saiu para ser contratado como docente pela Universidade Estácio de Sá.
Ao que me parece, embora o contato com pacientes seja a sua maior paixão, hoje, ainda no campo da Fisioterapia, está dando foco ao magistério, já que continuará a ministrar suas aulas onde houver alunos que queiram aprender traumato-ortopedia. Contudo, nota-se, está torcendo por suas outras paixões, como implantar novas clínicas e fazer o atendimento direto de pacientes.
Nenhum sacrifício é demasiado, quando se tem um final feliz.
* * *
Post scriptum.
E o final feliz continua...
No início de 2004, o nosso fisioterapeuta voltou aos quadros da Fisio R-9, onde trabalha na parte da tarde. A partir de 2006, deu um tempo para as aulas, já que, pela manhã e à noite, além de estudos, vem se dedicando aos seus clientes particulares. Não citarei nomes, mas seus pacientes são, na sua maioria, artistas do eixo Rio-São Paulo, desportistas (alguns vêm especialmente do exterior para o tratamento) e empresários paulistas e cariocas.
Decerto, o nosso professor de Cinesioterapia, Traumato-ortopedia e Fisioterapia Esportiva agradou, pois sua trajetória é bem eloquente. Formou-se em 2002. Em 2003 começou a dar aulas, ainda em 2003, ele foi um dos professores homenageados pela "Turma Mãos Que Reabilitam". Em 2004, foi eleito o paraninfo da "Turma Celebridades". Em fevereiro de 2005, mês em que completou 27 anos, recebeu um título que na minha época de estudante se exigia do homenageado, no mínimo, alguns cabelos brancos: foi eleito patrono da "Turma Skolegas". Em março de 2006, foi eleito o paraninfo da "Turma Fábio dos Santos Borges" (Formandos 2005.2). Mais uma vez, em outubro de 2006, foi eleito paraninfo pelos formandos da turma 2006 de Fisioterapia. Todas as sobreditas turmas são da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá – Campus Niterói, muito embora o nosso professor de fisioterapia resida na Barra da Tijuca. Em janeiro de 2007, participou da colação de grau de mais duas turmas do Campus R-9/Taquara da Universidade Estácio de Sá (Formandos 2006.2): "Turma Fisioterapia sim, com muito orgulho!" e "Turma Zuruwiski", já que em ambas foi um dos professores homenageados.
Em 2010, o nosso fisioterapeuta deixou os quadros da Fisio R-9 e lá inúmeros amigos. Agora, em regime de tempo integral, dedica-se aos seus clientes particulares e, nas horas vagas, elabora planos para viabilizar a abertura da sua própria clínica de fisioterapia
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