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Folha de S.Paulo - Mercado
27 de janeiro de 2011
32 milhões de brasileiros usam LAN houses no país
Pesquisa revela que 45% dos acessos à rede no país são feitos nesses locais
Maioria é de jovens do Nordeste e Sudeste com renda de até R$ 1.200 e que desembolsam R$ 2 por hora na internet
CLAUDIA ROLLI
DE SÃO PAULO
Trinta e dois milhões de brasileiros acessam a internet em 107 mil LAN houses espalhadas pelo Brasil, segundo o Comitê Gestor de Internet no Brasil. O que significa dizer que 45% dos acessos à rede no país são realizados por meio desses locais.
São usuários, na maior parte, jovens, com idade entre 14 e 24 anos, que possuem renda pessoal de até R$ 1.200 e trabalham e/ou estudam. Concentram-se em regiões carentes do Nordeste e do Sudeste e desembolsam, em média, R$ 2 por hora para ter acesso a serviços de internet.
Sete em cada dez desses jovens concluíram no mínimo o oitavo ano do ensino fundamental. E 43% deles têm ensino médio completo ou superior incompleto.
Eles trabalham de seis a oito horas por dia, quase a metade deles com carteira assinada, e 77% deles contribuem para a renda familiar.
Os dados, obtidos com exclusividade pela Folha, constam de estudo sobre o perfil dos usuários de LAN houses realizado pela CDI Lan (empresa ligada à organização não governamental Comitê para Democratização da Informática) em parceria com a consultoria Plano CDE, especializada no mercado de baixa renda.
Parte das informações será apresentada hoje em um seminário do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para discutir formas mais eficientes de apresentar serviços e produtos de mais qualidade para os consumidores de baixa renda.
Na América Latina, esse mercado movimenta cerca de US$ 500 bilhões por ano.
"Mesmo sem computador ou sem acesso à internet, esse jovem busca informação e tecnologia fora de sua casa. Utiliza esse serviço, ao contrário do que se pensa, não apenas para jogar", afirma Luciana Aguiar, antropóloga e diretora da Plano CDE.Um dos pontos que mais chamam a atenção dos pesquisadores é o fato de um quarto desses jovens usar a LAN house para trabalhar e obter informações sobre emprego e formas de ganhar dinheiro, além de fazer cursos.No estudo, realizado com 891 usuários de todo o país, 40% deles responderam que investiriam em educação caso tivessem incremento na renda de R$ 500.
Em seguida, aparecem as categorias meio de transporte (20%), tecnologia (13%) e consumo pessoal (7%) -vestuário, calçados e higiene pessoal."Esse resultado mostra o potencial das LAN houses para oferecer cursos à distância, presenciais, além de crédito e produtos de inclusão financeira. As empresas ainda dão pouca atenção a esses consumidores", diz Bernardo Farias, diretor da CDI Lan.Até julho, a CDI Lan deve firmar acordo com empresa de grande porte de educação para iniciar cursos à distância em 20 LAN houses do Nordeste e Centro-Oeste.Em parceria com o Banco do Brasil, lançou recentemente o programa CorBan, que transforma LAN houses em correspondentes bancários. Hoje são 20 no país.
INCLUIR OS EXCLUÍDOS
Os usuários de LAN houses estão hoje distantes até mesmo do universo das pesquisas. Não estão em painéis de empresas de pesquisa on-line (comScore e Ibope)."A base da pirâmide passa muito distante dos radares das pesquisas tradicionais. É preciso ir além e procurar inseri-la nesses levantamentos", afirma Aguiar.A comScore, empresa líder mundial na medição de audiência digital, registra dados de usuários que acessam a rede em casa ou no trabalho em 45 países. "Nos próximos meses, isso deve mudar, com a inclusão da audiência de LAN houses. O Brasil será um dos primeiros a medir isso", afirma Alex Banks, diretor da empresa no Brasil.
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Folha de S.Paulo - Mercado
27 de junho de 2011.
Acesso à internet propicia a moradores crédito e diploma
DE SÃO PAULO
Ao chegar à Vila Brasilândia, na zona norte de São Paulo, em 2006, Sérgio Ródio, 35, não esperava que a LAN house, montada após perder o emprego de auditor fiscal em um escritório de advocacia, mudasse a vida dos moradores como mudou.
DE SÃO PAULO
Ao chegar à Vila Brasilândia, na zona norte de São Paulo, em 2006, Sérgio Ródio, 35, não esperava que a LAN house, montada após perder o emprego de auditor fiscal em um escritório de advocacia, mudasse a vida dos moradores como mudou.
Com 3.725 clientes cadastrados desde então, já mudou de endereço, ampliou o número de computadores de 5 para 14 e conseguiu até formar um cadastro de usuários "Vips" para quem oferece promoções e descontos.
Foi por meio da Terminator LH (LAN House), de Ródio, que Augusta Nania Cardoso, 56, fez empréstimo consignado, oferecido pela LAN house em parceria com uma instituição financeira.
O objetivo era quitar uma dívida de R$ 1.500 adquirida para comprar remédios e pagar parte do tratamento médico do marido, doente renal.
"O que demoraria cerca de duas semanas no banco levou três dias para sair por aqui. Uso a LAN house para pagar contas, saber das notícias e me informar até sobre preço de remédios, sempre com a ajuda do Sérgio, que tem a maior paciência com todos", diz a dona de casa.
Silvana Aparecida Ferreira, 38, moradora da comunidade, terminou o curso de pedagogia em dezembro. Durante três anos, frequentou a LAN house das 18h às 20h - exceto às terças, quando assistia aulas na faculdade.
"Até tenho computador em casa, mas com três filhos era difícil estudar. Optei vir para a LAN", diz a recém-formada no curso à distância frequentado na Terminator.
Por dia, Ródio ajuda a redigir e imprimir entre 10 e 20 currículos. "Muita gente que consegue emprego vem até aqui agradecer", diz o microempresário, que estuda ampliar os serviços da LAN, alguns deles feitos em parceria com a CDI Lan. (CR)
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