terça-feira, 28 de junho de 2011

No Varandão da Saudade-VIII - O futebol carioca

Nós éramos felizes
e não sabíamos




     Reportando-me às minhas conversas com Brumel Delano – o meu alter ego virtual – na varanda lá de casa, no Carnaval de 2002, quando concluímos que éramos felicíssimos e não sabíamos...

O futebol carioca

     Já disse em outro artigo desta série que a população do Rio de Janeiro, em 1950, não tinha chegado a dois milhões de habitantes e cerca de 10% deles, todos os domingos, lotava o Maracanã para ver um excelente futebol. Em outros cinco campos de futebol eram realizadas outras partidas. Para não nos alongarmos, vamos tratar apenas do futebol carioca.

O ‘Torneio Início’

     Tínhamos um campeonato carioca para ninguém botar defeito. Começava com um emocionante ‘Torneio Início’, quando doze equipes iam se digladiando num mata-mata de jogos de 20 minutos. 

     Se desse empate, a decisão era pelo menor número de escanteios ou, persistindo o empate, nos tradicionais tiros livres da marca do pênalti. No final, sobravam duas equipes, que disputavam um jogo decisivo também de 20 minutos de duração. Tudo isso acontecia no Maracanã, iniciando ali pelas dez da manhã e terminando no mesmo dia à noitinha. 

A ida e volta

     O campeonato carioca, propriamente dito, começava no domingo seguinte ao ‘Torneio Início’ e só havia jogos de futebol aos domingos.

     Doze clubes disputavam o Campeonato Carioca, com equipes imutáveis durante anos... Dificilmente, um jogador mudava de um clube para outro; quase sempre, iniciavam e penduravam as chuteiras no mesmo clube. Sabíamos todas as escalações das equipes na ponta da língua. 

     Havia seis clubes chamados grandes, em se considerando um maior investimento financeiro na aquisição de jogadores e com seus salários – Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, América e Bangu. Além deles, outros seis chamados pequenos, que investiam menos, mas que "incomodavam" muito.

     Aos domingos e só aos domingos, eram disputados seis jogos, um em cada local, conforme o mando de campo. No turno, digamos, em casa e no returno na casa do adversário. No final do campeonato, quem conseguisse maior número de pontos se sagrava campeão.

     Não era um campeonato fácil. Os seis grandes suavam a camisa entre eles e, também, para vencerem o confronto contra Madureira, Olaria, Bonsucesso, São Cristóvão, Canto do Rio e a Portuguesa. 

     Todo ano, um ou dois pequenos se ensaiavam como grandes, montando equipes muito "enjoadas"...

     Transmissão pela televisão, nem pensar... Resultado: todos os domingos, o Maracanã ficava lotado, às vezes com cerca de 190 mil torcedores, para assistir a um clássico. Noutros estádios, também com lotação completa, por exemplo, no alçapão da Rua Bariri, o Flamengo poderia sofrer uma derrota para o Olaria, que era comemorada pelos demais torcedores como uma vitória de seus próprios clubes.

Triste constatação

        Hoje, os estádios estão vazios, posto que os canais de televisão, aberta e fechada, tenham tomado conta do espetáculo. Em breve, com o futebol exibido pela TV, veremos crianças cariocas torcendo por clubes de futebol de outros estados ou de outros países.





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