Nesta briga entre herdeiros do engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa (1873-1947) e o escultor francês Paul Landowski (1875-1961), estão esquecendo do gênesis da obra: foi o pintor Carlos Oswald (Florença, 18 de outubro de 1882 — Petrópolis, 1971) quem fez a arte final do desenho que serviu de base para os trabalhos de escultura e engenharia. Quem encomendou o monumento foi a Prefeitura do Rio de Janeiro e seu atual proprietário é a Arquidiocese do Rio de Janeiro. Além do que a Lei de Direitos Autorais considera "não ofensa aos direitos autorais" a reprodução de obras situadas em locais públicos: "Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais."
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São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2011 |
RUY CASTRO O homem de braços abertos RIO DE JANEIRO - Às vésperas do seu aniversário de 80 anos, em outubro próximo, o indiscutível logotipo do Brasil, o Cristo Redentor, vê-se disputado pelos herdeiros de dois homens envolvidos na sua criação: o engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa (1873-1947) e o escultor francês Paul Landowski (1875-1961). A disputa é de autoria. Cada lado quer assinar o Cristo. A questão não é acadêmica. Envolve crédito artístico (o Cristo é o maior monumento art déco do mundo) e créditos bancários -os herdeiros de Landowski exigem uma fatia dos lucros gerados por sua suposta exploração comercial. Mas o Cristo pertence à Arquidiocese do Rio, que cede graciosamente sua reprodução (na forma de estatuinhas, santinhos e termômetros de feira hippie até joias da H. Stern) e só pede respeito pela imagem. Os fatos são simples: Heitor da Silva Costa levou dez anos construindo o Cristo, de 1921 a 1931. Venceu a concorrência inicial (todo tipo de Cristo foi cogitado, até sentado), firmou sua localização (havia quem quisesse encarapitá-lo no Pão de Açúcar, em vez do Corcovado), optou pelo concreto armado revestido de pedra-sabão, contratou os desenhistas, ceramistas e escultores (entre eles, em Paris, Landowski, para executar a maquete, o rosto e as mãos) e acompanhou a construção, a 710 m do nível do mar. A família do francês tenta diminuir o brasileiro. Para ela, Heitor seria só um mestre de obras; Landowski, o artista. Ótimo. Mas, para mim, ao se decidir pelo homem de braços abertos que, por seu formato e dimensões, poderia ser visto de toda parte da cidade e, à noite, iluminado, transformar-se-ia numa cruz, Heitor foi mais artista que qualquer artista. Pena Landowski não ter visto o resultado -nunca pôs cá os pés. Outra coisa: para os herdeiros de Heitor, o Cristo pertence ao Rio. E este não lhes deve royalties, nunca lhes deverá. * * * |
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