quarta-feira, 1 de junho de 2011

Carcarás, tetéus, chupins e andorinhas nordestinas




O carcará

     Carcará todo mundo conhece do cancioneiro popular: pega, mata e come... Grosso modo, trata-se de uma espécie da família dos falconídeos, ave muito encontrada na América do Sul. Carcará vem de carancho, que, por sua vez, vem do tupi ka’rãi, que quer dizer arranhar, rasgar com as unhas.

     O nordestino tem fundadas razões para caçá-lo sem economizar munição, já que o filho duma égua come de tudo: galináceos e assemelhados, todos os tipos de pássaros, borregos, vitelos, até os calangos, que, nas épocas de absoluta míngua, são disputados pelo sofrido povo do sertão. 

O tetéu

     Já o tetéu, outra ave, só os nordestinos conhecem bem. Sabe o que é um tetéu? A origem do nome é onomatopaica, pois o vocábulo imita o seu canto. Haveria para ele definições bem mais científicas, mas fico com a de um amigo paraibano: "O tetéu é um passarinho cinza, preto e branco, com o bico, pernas e esporões encarnados, que não drómi e - com a zueira que faz - não deixa o povo drômir, não dá pra cumê de vez que não cunzinha e nem pega sal. Carne dura da mulesta, não serve para nada".

     Mais ao sul do país, o tetéu muda várias vezes de nome: quero-quero, tero-tero, teréu-teréu, téu-téu, terém-terém, gaivota preta, espanta boiada e chiqueira.

      Mas que “pássaro” seria esse?

     Da dupla ‘Tetéu & Carcará’ – que até daria um excelente nome de repentistas nordestinos –, o povo tem conhecimento e dela se defende bem. 

     Mas existe também no nordeste um terceiro “pássaro”, que vem flagelando o povo de lá, para o qual ainda não encontraram remédio. A sorte – já que Deus nunca desampara – é que, misturadas com esses “pássaros”, existem muitas andorinhas que, mesmo sendo maioria, não conseguem fazer verão... 

     Mas, voltando ao outro tal “pássaro”, trata-se de uma ave de arribação que, de vez em quando, sempre nos longos finais de semana – de quinta à terça –, de per si ou em pequenos grupos, faz o trajeto do Planalto Central para o Nordeste e vice-versa... Muitos deles fazem ninhos mais para sul, em balneários famosos ou em serras chiques. Alguns também têm ninho no hemisfério norte e passam – literal e literariamente – por cima do problema, e vão para outras plagas. Até mudam de trinado: Ai quenti bé-livi ou, então, Jé sui dé-solê... 

      Contudo, o “pássaro” em questão não é monopólio da região Nordeste, posto que haja muitos deles em qualquer lugar do Brasil. Como é que fui me esquecer do nome desse “pássaro”?

Seria o chupim?

         Seria o chupim? O quê? Você não sabe o que é isso? Didaticamente, o chupim é um pássaro preto, cuja fêmea tem como idiossincrasia pôr os seus ovos no ninho do tico-tico que, inadvertidamente, lhe cria os filhotes. 

     O chupim, também chamado de vira-bosta, por ser comum frequentar os currais das fazendas, alimentando-se de todo o tipo de sementes, principalmente do milho que recolhe das fezes do boi, assim como costuma causar sérios danos aos arrozais na época das colheitas. 

      Nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul ele também é chamado de ‘marido de professora’, quando ele vive a expensas da mulher. Por extensão, diz-se da pessoa inoperante, que vive sem fazer força, vivendo na aba ou das sobras dos outros, se aproveitando do esforço alheio. Mas como é o nome dele? Deve ser mesmo o chupim...

A minha homenagem às andorinhas

     Esta crônica é uma homenagem que presto ao valoroso povo nordestino, honesto e trabalhador. Assim, vai aqui o meu respeito e admiração a todos Cíceros e Cíceras, Severinos e Severinas, Josés e Josefas, Antônios e Antônias, Franciscos e Franciscas, Luízes, Marias, Pedros, Raimundos de todos os tipos e até aos Alfredos, assim como outros nomes que porventura possam ter. 

     As minhas homenagens às andorinhas, pedindo a Deus que as façam reproduzir, ao ponto de serem suficientes para fazerem muitos verões de abençoadas chuvas para o nordeste.




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