terça-feira, 6 de setembro de 2011

Hoje é o dia do Hino Nacional Brasileiro > Letra difícil, música complicada, mas jamais foi desbancado pelos concorrentes

Com música de Francisco Manuel da Silva e letra que foi sendo alterada através dos tempos, o Hino Nacional Brasileiro segue uno e indivisível. Muitos não conseguem cantá-lo por inteiro mas ninguém aceitaria que o Hino fosse trocado por outro, mais simples. O Hino, assim como a Bandeira e o idioma, são a identificação de um povo com sua nação e mexe com a alma da gente, fazendo-nos sentir uma parte indivisível de um todo.

Na realidade, o primeiro Hino Nacional foi composto por D. Pedro I e é hoje o Hino da Proclamação da Independência e sua letra diz: "Já podeis, da Pátria filhos, / Ver contente a mãe gentil; / Já raiou a liberdade / No horizonte do Brasil.". Há quem conteste a autoria do Imperador. Embora de inegável cultura, D. Pedro I era mais guerreiro que artista, pouco dado a gestos românticos e mais atirado à prática do "prendo e arrebento, o que ficou comprovado em sua trajetória, ao fechar a Assembléia Nacional Constituinte, e ao abdicar do poder para ir defender o trono usurpado se sua filha Maria da Glória em Portugal. 


No começo do século XIX, o artista, político e livreiro Evaristo da Veiga escreveu os versos de um poema que intitulou como “Hino Constitucional Brasiliense”. Em pouco tempo, os versos ganharam destaque na corte e foram musicados pelo maestro Marcos Antônio da Fonseca Portugal (1760-1830), professor de música de D. Pedro.  Por razões óbvias, a composição passou a ser atribuida ao próprio imperador.

A trajetória do Hino Nacional Brasileiro é complicada e cheia de armadilhas. Composto por Francisco Manuel da Silva, sua primeira letra nada tinha de patriótica. Escrita por Ovídio Saraiva de Carvalho, era um desacato ao Imperador Pedro I que, em 1931, abdicou do trono e partiu para Portugal, "tirando a poeira das botas, para não levar qualquer resíduo das terras brasileiras". Anos mais tarde, quando o filho foi coroado rei, com o nome de D. Pedro II, a letra foi mudada para homenagear o novo imperador. 

Em 1989, logo após a Proclamação da República, foi aberto um concurso para a composição do novo Hino Nacional e ganhou a composição com letra de Medeiros e Albuquerque (1867 - 1934) e música de Leopoldo Miguez (1850 - 1902), tendo como refrão: "Liberdade! Liberdade! / Abre as asas sobre nós / Das lutas, na tempestade / Dá que ouçamos tua voz." Diante da reação popular contrária à mudança, decidiu-se que a nova composição passaria a ser o "Hino da Proclamação da República", permanecendo a música de Francisco Manuel da Silva como Hino Nacional Brasileiro. 

Somente em 1906 foi realizado um novo concurso para a escolha da melhor letra que se adaptasse ao hino, e o poema declarado vencedor foi o de Joaquim Osório Duque Estrada, em 1909, que foi oficializado por Decreto do Presidente Epitácio Pessoa em 1922 e permanece até hoje. Portanto, somente a partir de 1922, data do 1º Centenário da Independência, é que o Brasil tem um Hino Nacional oficializado.

Em 1971, em plena vigência do Ato Institucional nº5, foi promulgada lei bastante rígida com relação aos símbolos nacional.  De acordo com o Capítulo V da Lei 5.700 (01/09/1971), que trata dos símbolos nacionais, durante a execução do Hino Nacional, todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio. Civis do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência, segundo os regulamentos das respectivas corporações. Além disso, é vedada qualquer outra forma de saudação (gestual ou vocal como, por exemplo, aplausos, gritos de ordem ou manifestações ostensivas do gênero, sendo estas desrespeitosas ou não).

Há outras restrições que tiram a espontaneidade do ato. O andamento é de 120  seminimas por minuto. A musica dever ser cantada em Fá maior, primeira e segunda parte. Em caso de instrumental, o tom obrigatório é de Si bemol maior, apenas a primeira parte. Isso explica por que jogadores em campo tem dificuldade em cantar o Hino, já que ele é executado três tons acima da média. 

Ao fim da ditadura militar, a cantora Fafá de Belém gravou o Hino em andamento mais lento e dramático e isso criou uma polêmica que então foi resolvida pelo presidente José Sarney: A composição em andamento diferenciado poderia ser usada como manifestação artística, mas não em solenidades oficiais. Aliás, foi Fafá que resgatou o "heroi cobrado", cacófato que aparece na letra. Em sua versão, ela substitui "do povo o heroico brado" por "do povo um heroico brado", eliminando a cilada na letra. Sua versão, sem que ela imaginasse, acabaria sendo o réquiem de Tancredo Neves, executada a todo momento pelas emissoras de TV que cobriram a morte, velório e enterro do Presidente.

Há ainda a peça alternativa do compositor americano Louis Moreau Gottschalk, feita por volta de 1860, que se intitulou a "Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro", e que sobreviveu, a duras penas, durante a ditadura militar. Por ocasião das comemorações dos 150 anos de Independência, programou-se a apresentação da "Fantasia" no parque do Ipiranga, reunindo as Sinfônicas de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas veio de Brasília a proibição, alegando que o Hino deveria ser executado unica e exclusivamente na forma da Lei. Foi preciso a ida, a Brasilia, do Maestro  Isaac Karabishevsky para explicar que se tratava de fantasia e não de reprodução indevida do Hino. E a apresentação acabou acontecendo.
Há quem insista que o Hino Nacional Brasileiro é complicado demais e que poderia ser substituido pelo Hino à Bandeira. Bobagem. Complicado ou não, ele tem um poder subliminar e não há o mais frio e insensível brasileiro que não se emocione com a majestade da música e o poder contagiante da letra, emocionando o mais insensível dos mortais.


Por último, uma observação. Há quem diga por aí que a introdução ao Hino Nacional Brasileiro tinha uma letra, que foi suprimida depois. Não é verdade. Qualquer que entenda um pouco de composição musical sabe que aqueles acordes iniciais não se prestam para cantar e, no andamento de 120 batidas por minuto, seria praticamente impossível fazer um coral ou orfeão começar uníssono em tamanha velocidade. A introdução é apenas introdução, começa com um turbilhão de notas rápidas e termina com várias semínimas, marcando o compasso para o início da parte cantada.


Essa letra, que realmente existiu, não é original do Hino e se atribui a  Américo de Moura, natural de Pindamonhangaba, presidente da província do Rio de Janeiro nos anos de 1879 e 1880. Em 17 de novembro de 2009, o cantor Eliezer Setton lançou um CD, intitulado "Hinos à Paisana", das quais uma das faixas é do Hino Nacional Brasileiro com essa introdução cantada. 


Então, se a letra existe, é postiça, não é original. Tem a ver com a extravagância, não com a originalidade da composição. Introdução, é introdução, sua finalidade é dar o encaminhamento para o início da sequência melódica da parte cantada. Nada mais que isso.







Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.