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São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 2011 |
Carlos Heitor Cony Noite infeliz Não foi, evidentemente, o Natal da minha vida, nem sei se posso me orgulhar ou me lamentar de uma data que muda de sentido à medida em que nós mudamos. Há o soneto de Machado de Assis que diz tudo. Mudou o Natal ou mudei eu? Mudamos ambos, apesar do bimbalhar dos sinos. Contudo já tive um momento de ódio ao Natal. Foi durante um filme, cujo nome não guardei, só guardei a cena. Durante a Primeira Guerra Mundial, que foi uma guerra de trincheiras, tropas aliadas e alemãs estão próximas. O herói principal era o tenor Nelson Eddy, que comandava um pelotão francês. Um soldado lembra que é Natal e é meia-noite. Então o tenor-tenente começa a cantar "Noite Feliz". Do outro lado da terra de ninguém, também protegidos pelas trincheiras, os soldados alemães ouvem o hino, que afinal teve origem germânica. Começam a cantar também, noite silenciosa, noite sagrada, etc. A voz de Nelson Eddy se sobressai, afinal ele é o protagonista da cena. Os alemães se submetem à segunda voz, fazem variações estranhas. Apesar de serem franceses e alemães, todos cantam em inglês: "Silent night, holy night...". Mal o hino acaba, algum comandante dá ordem de ataque. Os soldados de um e de outro lado saem das respectivas trincheiras e entram num corpo a corpo com baionetas na ponta dos fuzis. Começa a carnificina, enquanto Jesus -segundo a letra do hino- dorme em paz numa gruta de Belém. |
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