Paulo Victorino (Pitoresco
O filósofo William James (1842-1910), um
dos fundadores da psicologia moderna teria dito, certa vez que, a palavra tem
vida própria e, se cortarmos uma palavra ao meio, de dentro dela sairá sangue. É
uma metáfora, que enfatiza a importância das palavras nas frases, e das frases
no contexto.
Em 1922, durante a Semana de Arte Moderna,
a Bayer pediu ao engenheiro, dramaturgo e publicitário Bastos Tigre, que
criasse um slogan para a fábrica recém instalada no Brasil. Imagine a
estupefação, quando, duas semanas depois, Bastos apresentou aos diretores uma frase
que simplesmente dizia: “Se é Bayer é bom”. Uma expressão aparentemente oca,
vulgar, sem sentido, que qualquer criança de primeiro ano conseguiria fazer,
sem cobrar um centavo. Pois bem, esse slogan, aparentemente sem pé nem cabeça,
tornou-se um dos hits da Bayer, acompanhando toda a vida da empresa no país.
Mais ainda, foi traduzido para o espanhol (Si es Bayer, es bueno) e usado por
todas as fábricas instaladas em países da língua espanhola. Que força ela tem,
que as outras não tem?
Após a Segunda Guerra Mundial, a Coca Cola criou uma peça
publicitária, usada em outdoors e na propaganda impressa em geral, que dizia simplesmente:
“Beba Coca-Cola” (em inglês, “Drink Coca-Cola”) Não argumenta, não diz por quê,
apenas ordena. E a frase, traduzida para outros idiomas e impressa em todos alfabetos, girou o mundo durante muitos e muitos anos, tornando-se carro chefe na venda do
produto.
Nos anos 50, surgiu no Brasil um refrigerante de uva com
o nome de Grapette, que usava um trava-língua, assim: “Grapette, quem bebe,
repete”. Uma frase sem sentido, mas bem cadenciada, que caiu no gosto popular,
ainda que o refrigerante, exceto entre os gaúchos, não foi sucesso por muito
tempo.
Agora, nos novos tempos, é a Internet que nos prega
dessas surpresas, transformando em memes algumas frases que deveriam morrer
no primeiro momento. Um meme, diz a Wikipedia, é para a memória o análogo do gene na genética, a sua
unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica
de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada e outros
locais de armazenamento ou cérebros. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução
cultural que pode de alguma forma autopropagar-se, sem incentivo ou
controle externo.
Foi o que aconteceu,
esta semana, com a Luiza. Vivendo há seis meses no Canadá, em intercânbio
cultural, de repente, sem fazer nada, transformou-se em um meme, quando seu pai,
em gravação publicitária, apresenta a família e encerra dizendo: “Estão todos
aí. Menos a Luiza, que está no Canadá”. Relembrando Willian James, qual o “sangue”
contido nessa frase, que lhe deu vida e a fez multiplicar por todo o Brasil até cair na boca do povo? Ninguém explica.
A verdade é que, por
algum tempo, ela ainda estará, por aí, presente. E quando alguém iniciar uma
reunião com a frase “Estão todos aqui?”, sempre haverá algum engraçadinho para
responder: “Menos a Luiza...”
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