sábado, 21 de janeiro de 2012

Luiza - A insustentável leveza das frases

Paulo Victorino (Pitoresco


O filósofo William James (1842-1910), um dos fundadores da psicologia moderna teria dito, certa vez que, a palavra tem vida própria e, se cortarmos uma palavra ao meio, de dentro dela sairá sangue. É uma metáfora, que enfatiza a importância das palavras nas frases, e das frases no contexto.

Em 1922, durante a Semana de Arte Moderna, a Bayer pediu ao engenheiro, dramaturgo e publicitário Bastos Tigre, que criasse um slogan para a fábrica recém instalada no Brasil. Imagine a estupefação, quando, duas semanas depois, Bastos apresentou aos diretores uma frase que simplesmente dizia: “Se é Bayer é bom”. Uma expressão aparentemente oca, vulgar, sem sentido, que qualquer criança de primeiro ano conseguiria fazer, sem cobrar um centavo. Pois bem, esse slogan, aparentemente sem pé nem cabeça, tornou-se um dos hits da Bayer, acompanhando toda a vida da empresa no país. Mais ainda, foi traduzido para o espanhol (Si es Bayer, es bueno) e usado por todas as fábricas instaladas em países da língua espanhola. Que força ela tem, que as outras não tem?


Após a Segunda Guerra Mundial, a Coca Cola criou uma peça publicitária, usada em outdoors e na propaganda impressa em geral, que dizia simplesmente: “Beba Coca-Cola” (em inglês, “Drink Coca-Cola”) Não argumenta, não diz por quê, apenas ordena. E a frase, traduzida para outros idiomas e impressa em todos alfabetos, girou o mundo durante muitos e muitos anos, tornando-se carro chefe na venda do produto.


Nos anos 50, surgiu no Brasil um refrigerante de uva com o nome de Grapette, que usava um trava-língua, assim: “Grapette, quem bebe, repete”. Uma frase sem sentido, mas bem cadenciada, que caiu no gosto popular, ainda que o refrigerante, exceto entre os gaúchos, não foi sucesso por muito tempo.


Agora, nos novos tempos, é a Internet que nos prega dessas surpresas, transformando em memes algumas frases que deveriam morrer no primeiro momento. Um meme, diz a Wikipedia, é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se, sem incentivo ou controle externo.


Foi o que aconteceu, esta semana, com a Luiza. Vivendo há seis meses no Canadá, em intercânbio cultural, de repente, sem fazer nada, transformou-se em um meme, quando seu pai, em gravação publicitária, apresenta a família e encerra dizendo: “Estão todos aí. Menos a Luiza, que está no Canadá”. Relembrando Willian James, qual o “sangue” contido nessa frase, que lhe deu vida e a fez multiplicar por todo o Brasil até cair na boca do povo? Ninguém explica.

A verdade é que, por algum tempo, ela ainda estará, por aí, presente. E quando alguém iniciar uma reunião com a frase “Estão todos aqui?”, sempre haverá algum engraçadinho para responder: “Menos a Luiza...”



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