quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A escultura milagrosa, de braços abertos, no alto do Corcovado


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São Paulo, quarta-feira, 05 de outubro de 2011

RUY CASTRO

Conversões de pedra

RIO DE JANEIRO - Na noite de 12 de outubro de 1931, um marinheiro irlandês, já para lá de zuzu, desembarcou de um navio recém-aportado no Rio. Ao pisar a praça Mauá, olhou para o céu escuro e, súbito, um Cristo fosforescente surgiu aos seus olhos. "Milagre!", exclamou o marinheiro, a quem uma remota fé católica e as pregações do capelão não impediam que ele emborcasse tudo que houvesse de líquido a bordo e, às vezes, visse coisas.

Mas aquele era um sinal. O homem de braços abertos surgira do nada, aceso, paternal, como que chamando de volta o cordeiro que se desgarrara. O marujo voltou correndo para o navio e se entregou ao capelão. O qual, se sabia que o Cristo era uma estátua da altura de um edifício de dez andares que se inaugurava naquele dia, no alto de uma montanha, fez-se de bobo. Afinal, ganhara de graça uma alma que já dera como perdida para as biroscas do cais.

O tal marinheiro não foi a única conversão operada pelo Cristo Redentor. Nem a primeira. Antes mesmo de sua inauguração naquele dia, há quase 80 anos -antes até de ficar pronto-, a imagem do Cristo já consolidara a fé do homem que o estava construindo no topo do Corcovado: o engenheiro-arquiteto carioca Heitor da Silva Costa.

Matemático e geômetra rigoroso, nascido e formado no século 19, Heitor era indiferente às coisas místicas, quase um agnóstico. Seu interesse inicial pelo monumento pode ter sido o desafio puramente técnico. Mas o Cristo avassalador que nascia de seu gênio e concepção alterou sua visão do mundo. Dali Heitor construiria outros monumentos religiosos, em São João del-Rei, Petrópolis e no próprio Rio.

E quem, muito depois, em visita ao Rio, disse que aquele Cristo entre as nuvens balançara seu ateísmo foi a escritora americana Anne Rice. E os vampiros ficaram tiriricas.


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