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Raul Juste Lores Arquitetura nas favelas Aos 36 anos, Boldarini é o Isay Weinfeld dos nossos subúrbios. Em seis anos, o arquiteto projetou 1.500 apartamentos para a Secretaria da Habitação. Tem outros mil na prancheta, com formas e cores antimonotonia, parquinhos e até solário onde os vizinhos fazem seus churrascos. Sua maior empreitada é o Cantinho do Céu, no Grajaú, área em processo de urbanização às margens da represa Billings, a 30 km ao sul da avenida Paulista, onde vivem 40 mil pessoas. O arquiteto concebeu um parque linear de 7 km (2 km prontos), com deques de madeira, bancos, jardins, quadras de futebol, aparelhos de ginástica para os idosos e playgrounds para crianças. No dia 3, ganhará um cinema ao ar livre, raridade na área, primo dos antigos drive-ins. As ruas ganharam um declive no meio para escoar as águas -e não nas laterais, onde as chuvas alagavam as casas. Nas calçadas, há tijolos com alta permeabilidade antienchente. Vi mais design ali que em muitos empreendimentos privados do circuito Morumbi-Itaim. A obra vai na contramão de sufocar rios e várzeas, como na bilionária ampliação da marginal Tietê. Tampouco lembra os condomínios do Minha Casa, Minha Vida, que recordam a produção em série do malufista Cingapura. Quem diria que justo Kassab urbanizaria favelas com arquitetos de ponta? Na semana que vem, São Paulo abriga o seminário "Arq.Futuro" (www.arqfuturo.com.br), que traz alguns dos maiores arquitetos e críticos do mundo. É uma rara ocasião para se recordar que a arquitetura não é item supérfluo. Com ela, Boldarini faz pedagogia do olhar em uma cidade embrutecida, onde poucos na elite conseguiriam citar seu arquiteto favorito. |
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